Sacos de plástico, garrafas e até guarda-chuvas. As “imagens recolhidas” pelo JPN mostram os principais objectos que poluem o rio Tinto. Mas as descargas ilegais são a principal causa da poluição e dos maus cheiros, principalmente junto à Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da freguesia de Rio Tinto.

Nuno Santos, do gabinete de comunicação da Câmara de Gondomar, disse ao JPN que “as descargas clandestinas provenientes de habitações são o resultado do rápido e forte desenvolvimento demográfico, que trouxe problemas de ordenamento do território, nomeadamente na instalação de saneamento básico, o que acarreta problemas ambientais desde há 40 anos”.

“O rio tem a nascente em Valongo, passa por Gondomar (Rio Tinto) e desagua no Porto, por isso todos os esforços no sentido da despoluição terão de ser feitos em colaboração dos três locais, até porque o rio já vem poluído desde Valongo”, esclarece Nuno Santos.

A Junta de Freguesia de Rio Tinto tem colaborado com o Movimento de Defesa do Rio Tinto na limpeza das margens e na realização de campanhas de sensibilização junto da comunidade escolar e dos moradores.

Estas são as soluções referidas como as mais eficazes para a despoluição, acompanhadas pelo fim das descargas ilegais de efluentes domésticos. A Câmara de Gondomar entubou parte do rio em 1997, uma medida contestada pelo movimento de cidadãos e pela Junta de Freguesia.

Entubamento divide moradores

O entubamento, mesmo que parcial, “não resolve o nível de poluição e além disso tira toda a beleza que um rio pode dar a uma cidade”, argumenta Maria da Conceição Loureiro, vogal da Junta de Freguesia.

Ouvidos pelo JPN, moradores que vivem mais perto do rio defenderam o entubamento, uma vez que assim evitava-se que o rio transbordasse e causasse inundações nas casas, quando chove muito. Maria Arlete queixa-se frequentemente dos cheiros nauseabundos provenientes das descargas da ETAR.

A Lipor era frequentemente apontada como uma das empresas poluidoras, através das descargas dos aterros. O administrador Fernando Leite admite ser verdade, mas esclarece que “actualmente a situação já está resolvida”. “Já não poluímos o rio”, diz ao JPN.

“A reabilitação das águas do rio Tinto é possível, mas vai levar muito tempo”, refere o administrador da Lipor. Por enquanto, a água do rio está imprópria para banhos, devido ao perigo de contaminação pelas bactérias.

Um rio tinto pela história

A cidade de Rio Tinto deve o seu nome ao rio que lá passa. O curso de água conta uma lenda acerca de uma guerra entre cristãos e mouros.

No início do século X, os cristãos ganhavam terreno aos mouros. Governava o conde Hermenegildo Gutierres o território da Galiza até Coimbra, tendo como centro o Porto. Contudo, o califa Abdelramam III, com um poderoso exército, fez uma violenta investida, cercando a cidade do Porto.

O rei Ordonho II desceu em socorro do seu sogro, o conde Gutierres, conseguindo afastar os mouros e perseguindo-os para longe da cidade. Depois houve uma batalha sangrenta. E foi o sangue derramado que tingiu as águas do rio, que pela cor vermelha do sangue tomaria o nome de rio Tinto.