Dados revelados recentemente colocam a cidade do Porto como a mais pobre da Península Ibérica e uma das mais pobres da União Europeia (UE). O distrito do Porto já ultrapassou os valores de âmbito nacional e concentra 45% dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção.

As instituições que tentam atenuar este problema ultrapassam a centena em todo o distrito. A necessidade é cada vez maior, mas a generosidade das pessoas não basta para solucionar o problema.

Banco Alimentar Contra a Fome

O Banco Alimentar Contra a Fome é uma das instituições pivô no distrito, mas já conta com mais de 100 organizações em lista de espera. A organização, sediada em Matosinhos, actua nos 18 concelhos do distrito, tendo apenas nove funcionários a tempo inteiro. Os restantes 2.600 são voluntários que dedicam algumas horas do seu dia ao apoio aos mais carenciados.

Dedicada a minimizar a fome dos mais carenciados no distrito do Porto, o Banco Alimentar Contra a Fome diz não ter qualquer vínculo político, étnico ou religioso. Tal como os demais Bancos Alimentares que existem em Portugal, a instituição dirigida por Vasco António obedece à Carta Europeia dos Bancos Alimentares, rejeitando o primado do dinheiro, o que os impede de comprarem alimentos ou qualquer outro bem.

Por ano, chegam a distribuir cerca de 5.000 toneladas de alimentos, através de 414 instituições de solidariedade social. Mais de 150 são mediadoras e, como tal, supervisionadas pelo banco, enqaunto as restantes 259 são beneficiárias. Vasco António, presidente do Banco Alimentar do Porto, afirma: “Vivemos à míngua daquilo que nos dão”.

Tudo o que recolhem é partilhado equitativamente pelas instituições, de acordo com o número de pessoas que cada uma ajuda. O horizonte que se vislumbra é pouco animador. Para que a lista de espera deixe de crescer será necessário que as doações aumentem, mas a tendência é contrária aos desejos daqueles que lutam diariamente para diminuir as carências dos pobres na cidade do Porto.

Um acordo atípico firmado com o Centro Regional de Segurança Social ajuda a “pagar parte da despesa proveniente do trabalho de distribuição e armazenamento dos produtos chamados excedentes da UE”, mas “apenas cobre esta despesa em 10%”, diz o presidente da instituição. Os restantes 90% têm que ser financiados pela caridade, o que leva a que a instituição tenha um défice mensal de dez mil euros.

Os excedentes da UE são distribuídos pelo Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, mas são cada vez menos os bens que chegam por esta via, uma vez que o número de países carenciados não pára de aumentar. Para sobreviver, o Banco Alimentar não tem outra solução senão “estender a mão à caridade”.

No entanto, o Banco Alimentar Contra a Fome não é o único órgão a lutar contra a pobreza no distrito.

Coração da Cidade

A instituição Coração da Cidade, dirigida por Lassalete Santos, desde 1996 que procura combater esta situação. Com um âmbito de actuação um pouco diferente, a ajuda é prestada directamente pela instituição, mas com o mesmo fim de fazer frente às carências humanas. Em entrevista ao JPN, a directora da instituição contou como desenvolvem a sua actividade.

O Coração da Cidade só trabalha com voluntários. Todos os que dedicam algum tempo aos mais carenciados recebem apenas a gratidão daqueles que ajudam. Para financiarem a sua actividade contam com a ajuda da sociedade civil, que “há dez anos despertou para este projecto, permitindo-nos criar uma rede de amigos muito grande”, como salientou a directora.

Têm ainda as vendas de artigos usados que são doados à instituição e que são lavados, cuidados e transformados para serem vendidos a preços simbólicos. O dinheiro que conseguem fazer nestas vendas é usado para providenciar alimentação às pessoas que têm a seu cargo.

As pessoas aptas para trabalhar são encarregues de “serviços ao próximo”, oito horas por semana, de forma a compensar a ajuda que recebem por parte do Coração da Cidade. Para Lassalete Santos, o futuro das instituições passa, em grande parte, pelo “envolvimento directo de pessoas famosas, que se unam às instituições, sabendo o que elas pedem, para não entrarem nas campanhas dando apenas a cara”.

Amnistia Internacional

Menos vocacionada para a doação de bens e mais para a sensibilização para os problemas está a Amnistia Internacional (AI). A instituição actua “em qualquer área onde os direitos humanos estejam a ser violados, ou não estejam a ser respeitados”, afirma a directora da sede distrital do Porto, Virgínia Silva, ao JPN.

Na AI, a situação é um pouco diferente. Nas sedes, que existem em vários países do mundo, há profissionais de várias áreas, desde assistentes sociais, designers gráficos, advogados, juristas e médicos. Nas restantes delegações trabalham apenas voluntários, que se juntam para desenvolverem actividades de consciencialização. Tratando-se de uma organização não-governamental, o financiamento provém dos membros da instituição, que pagam uma quota anual.