Normalmente, nas criações de dança, a interpretação musical e a interpretação corporal estão a cargo de pessoas distintas. Mas em “Danza Ricercata” quem toca é quem dança: Joana Gama.

Foi a jovem pianista de 25 anos, vencedora do 1º Prémio Jovens Músicos/Antena 2 na categoria de piano – nível superior em 2008, que contactou Tânia Carvalho com o intuito de realizar algum trabalho em conjunto. A coreógrafa e bailarina de dança contemporânea aceitou “sem pensar duas vezes”. No entanto, em vez de ser ela a dançar e Joana a tocar, Tânia decidiu que a pianista fosse “a única intérprete, tanto no piano como na coreografia.”

Joana Gama toca e dança “Musica Ricercata”, do compositor contemporâneo György Ligeti (a peça, produzida pela Bomba Suicida, estreou em Outubro na Fábrica Braço de Prata). “A peça de Ligeti é composta por 11 pequenos andamentos [ouça o primeiro andamento] e o que fizemos foi caracterizá-los individualmente e conferir-lhes um fio condutor que tem por base uma personagem (a pianista) cujo percurso é testemunhado pelo público ao longo da peça”, explica Joana.

Este percurso é “uma espécie de ‘fantasia’ à volta do envolvimento que um pianista cria com a música que toca”, diz Tânia Carvalho. A coreografia foi concebida para tornar esse ambiente relacional mais expressionista, “não pelo exagero dos movimentos, por vezes só por uma postura, um gesto”.

Coordenar movimentos

Posições menos convencionais ao pianoPosições menos convencionais ao piano
Foto: DR
Joana Gama considera que os movimentos que delineiam “Danza Ricercata” conseguem comunicar bem a arquitectura da composição de Ligeti e o seu “potencial coreográfico”. Para tal, a pianista teve de anular grande parte do fluir normal do seu corpo porque “muitos dos movimentos que fazia naturalmente quando tocava a ‘Musica Ricercata’ não faziam sentido nesta criação”. Joana confessa que nos primeiros passos da construção do projecto foi difícil romper com a união dos movimentos aos sons produzidos.

A forma como abordou o piano teve de ser necessariamente diferente. Em “Danza Ricercata”, Joana não pôde concentrar-se apenas no instrumento. Precisou de polarizar a atenção por vários elementos, “desde movimentos com os pés, a expressões faciais, passando por tocar em posições menos convencionais”. Coordenar “os movimentos necessários para tocar e os movimentos da coreografia foi sem dúvida o maior desafio”.

“Danza Ricercata” é um espectáculo que transcende os conceitos de concerto de música clássica e de espectáculo de dança. Afigura-se como uma performance “que acrescenta uma certa inovação aos dois mundos”, refere Joana.

A pianista não quer ficar pela primeira experiência e está já a trabalhar num projecto semelhante: “em Janeiro de 2009 vou partilhar o palco com dois actores, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa”, adianta ao JPN. Datas no Porto ainda estão em negociações.