A 4 de fevereiro de 1866 o panorama cultural português era marcado pela “Questão Coimbrã”. Os conservadores opunham-se aos estudantes de Coimbra que assimilavam os novos ideais europeus. No auge da disputa Antero de Quental, defensor da nova escola, enfrentou Ramalho Ortigão, mais tradicionalista, num duelo no jardim de Arca D’água. Esta é a memória histórica mais marcante de um dos jardins mais emblemáticos da cidade do Porto.

Mas por baixo da relva, que um dia Antero, Ramalho e Camilo pisaram, esconde-se uma história muito mais antiga. No subsolo do jardim está o manancial de Paranhos a partir de onde as três nascentes de Paranhos alimentavam muitas fontes e chafarizes da cidade do Porto. Arca D’água foi, durante vários séculos, um dos maiores abastecedores de água dos locais públicos do centro da cidade.

Os canais atingem alguns quilómetros e percorrem algumas das artérias principais da cidade. A visita, iniciada num alçapão no centro do jardim, conduzia até à praça Coronel Pacheco mas, depois da deteção de alguns gases tóxicos, cinge-se agora às galerias e túneis de água do jardim. A peça central é a arca composta por vários arcos.

Os registos de condutas subterrâneas da cidade remontam ao século XIV mas a obra de encanamento foi autorizada pelo alvará de 20 de novembro de 1579 concedido pelo Rei Filipe I. A conclusão é datada de 1669, ou seja, uma construção que demorou cerca de 90 anos e que terá custado perto de 23 mil reis.

Os séculos foram passando, multiplicaram-se o número de passos no jardim, travaram-se duelos e conversas, mas a história continua a correr mais fundo que as raízes das árvores frondosas.