Sampaio da Nóvoa, potencial candidato às eleições presidenciais pelo Partido Socialista (PS), esteve, neste fim de semana, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FEUP), onde a Educação Informal foi o tema debatido. O seminário, que tem como assunto central a Educação Informal e como coordenador o professor emérito António Barbedo, estava incluído no projeto Novos Paradigmas, Debates e Iniciativas na FEUP.

Sampaio da Nóvoa apresentou, em primeiro lugar, as suas perspetivas quanto à Educação e ao sistema escolar que está presente nos dias de hoje. Começando no século XVIII e até aos século XXI, o reitor honorário da Universidade de Lisboa (UL) defendeu que é necessário mudar o sistema escolar em vigor.

O professor catedrático provocou algumas gargalhadas na plateia quando mencionou a ideia de que a invenção da escola como a conhecemos é, paralelamente, comparada ao Inferno: “A criança gosta de brincar, obrigam-na a trabalhar; a criança gosta de falar, impõem-lhe o silêncio; as criança gosta de se mexer, condenam-na à imobilidade”, mencionando o pedagogista Adolph Ferrière.

O sistema pedagógico nas escolas e universidades

Nóvoa, ao logo do debate, não poupou críticas ao atual sistema pedagógico que impera nas escolas e universidades portuguesas, afirmando que é necessário “construir novas formas de educação”. “É preciso conhecer as realidades de todas as nossas escolas e de tudo o que se vai fazendo”, referiu, defendendo a ideia de cooperação e colaboração.

O reitor honorário da UL criticou a massiva burocracia que existe nas instituições, dando o exemplo da avaliação dos professores, sublinhando que estes métodos restringem, muitas vezes, a ação dos professores, havendo, desde o início, uma limitação para alunos e professores.

O sistema que vigora tende a menorizar a educação para uma ação, espaço e tempo específicos, afirmou Nóvoa. A ideia de que têm que existir várias ações por parte das várias entidades para que haja uma mudança foi também referido. O ensino necessita que haja uma vontade de mudança por parte de professores e alunos, disse o ex-reitor da UL.

Sampaio da Nóvoa defendeu que o conhecimento tem que continuar a ser a peça central do processo de aprendizagem, mas que não tem, obrigatoriamente, de ser construído de forma tradicional e didática, como foi feito ao longo do século XX. Segundo o potencial candidato a Belém, o desdobramento dos tempos vai levar a um reforço das dinâmicas de auto formação, do estudo e experienciais, que vai contribuir para a perceção de que a aprendizagem tem que ter um lugar fora e dentro das escolas, tem de estar presente na sociedade também. Sem que a ideia central da educação seja uma sala com um quadro, alunos e professores.

Quanto à questão da municipalização da educação, Nóvoa disse ser contra, uma vez que “o reducionismo é trágico na educação”. O reitor honorário da UL afirmou que o ensino integral é algo com o qual não concorda, porque a educação está muito para além da escola. Reforçando a ideia, ao longo do debate, de que o problema não é exclusivo das escolas, mas também das famílias.

“As universidades estão a conseguir responder bem às questões da investigação e do conhecimento, mas o ensino pedagógico, que é o coração da universidade, ainda está aquém do necessário”, considerou.

Empregabilidade embutida na educação

A ideia de que a educação é um direito está a dissipar-se, sugeriu-se, no debate. Nos tempos que correm, a educação é um dever imposto a todos os que querem continuar a ter emprego. Assim, o ex-reitor, lamentou que, com esta matriz económica, a educação permanente deixe de ser um direito para ser um dever para todos.

Sampaio da Nóvoa, que se posicionou como possível candidato a Presidente da República recentemente, terminou dizendo que é preciso alterar esta realidade, defendendo que os decretos de lei, por si só, não mudam nada.

O reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, esteve presente e, no final, foi quem encerrou o debate no seminário, que decorreu na FEUP.