No passado dia 23 de abril estreou “Cobain: Montage of Heck” e o JPN teve a oportunidade de assistir ao documentário, que estará durante uma semana em algumas salas de cinema do país. Com a audiência composta por público entre os vinte e os quarenta anos, foi possível assistir à conturbada vida de Kurt Cobain.

“Cobain: Montage of Heck” recebeu o seu nome de uma cassete gravada pelo músico em 1988, onde criou uma montagem de músicas e filmes. O artista que nunca procurou a fama, acabou por lutar durante toda a sua vida contra esse conceito, dizendo apenas que queria fazer música e nunca perder a criatividade.

No primeiro documentário permitido pela família do músico, o realizador Brett Morgen pretende mostrar a vida de Kurt Cobain através dos olhos da celebridade, desmistificando todos os rumores criados à sua volta. Através da cooperação de Frances Bean Cobain, filha do músico e produtora do filme, e Courtney Love, viúva do artista, Brett conseguiu encontrar diversos registos da vida de Cobain, tanto antes de se tornar um ícone do rock/grunge, como no pós-fama.

Na arrecadação da casa de Courtney Love foram encontrados diferentes quadros e desenhos do músico, cassetes com gravações áudio do mesmo, para além de muitas divagações e pensamentos gravados no papel. Tudo isto ganha uma nova dimensão quando projetado para a grande tela, com a sua arte a ganhar movimento e vida.

Cobain: Montage of Heck

KurtCobain
O bilhete tem um preço único de 10 euros e pode ser visto em algumas salas de cinema do país.

De forma a conseguir transmitir toda a verdade, Morgen consegue depoimentos de diferentes pessoas ligadas a Kurt. É assim possível ouvir os pais e a irmã de Cobain, a sua madrasta, uma ex-namorada, Krist Novoselic, baixista dos Nirvana, e a sua esposa, Courtney Love.

Desta forma, o realizador consegue compilar toda a vida da estrela de forma cronológica, desde o momento que Wendy e Don Cobain se conheceram, até aos últimos momentos da curta existência do músico. É desta forma que Morgen coleciona declarações inéditas e mesmo chocantes da história de Kurt.

Num filme que demonstra os ideais “anti-media” e “anti-fama” que Kurt Cobain defendia, já que este era conhecido por ter uma relação de ódio com a comunicação social, são usadas ilustrações e desenhos animados para dar vida à arte de Kurt e narrar os momentos da sua vida que não foram gravados em vídeo.

Fica então a pergunta: tendo em conta os seus ideais e convicções, será que Kurt Cobain queria que a sua história saísse da caixa?

A influência dos Nirvana nas bandas e artistas nacionais

Hélio Morais, baterista dos Linda Martini, em conversa com o JPN, falou da sua própria ligação, bem como a da banda, aos Nirvana. “Todos ouvimos Nirvana a dada altura da nossa vida. É uma banda de que nós gostávamos bastante. Pessoalmente, até ouvia muito heavy metal e era talvez a única banda que não era mesmo heavy metal ou death metal que eu ouvia. A exceção era mesmo Nirvana, portanto, tinham ali qualquer coisa, conseguiam ir a vários sítios”, conta.

Quando questionado acerca da relação que os Linda Martini mantêm com os media e com o público, o baterista mostra-se confortável: “Nós temos uma posição bastante confortável. O tipo de pessoas que nos abordam na rua não tem volume suficiente sequer para nos fazer andar de óculos de sol. Não nos influencia negativamente. Quando alguém nos aborda na rua até acaba por ser um momento engraçado e costumam ser sempre bastante simpáticos. Não somos matéria de revistas ‘Caras’, nem coisas dessas”, revela, explicando ainda as assimetrias entre a sua banda e os Nirvana na relação com os media.

“Foi uma das personagens que mais me fez sentir o seu desaparecimento”

Por outro lado, Zé Pedro, guitarrista dos Xutos e Pontapés, também confidenciou ao JPN a sua admiração pelos Nirvana. “Os Nirvana e o seu vocalista foram os maiores compositores dos anos 90, sem dúvida nenhuma. Foram os melhores compositores de rock e de grunge que influenciou uma geração”.

Considerando-o um ícone do rock internacional, o guitarrista lembra-se do dia da morte de Cobain. “Teve um significado especial, porque estava mesmo no fio da navalha. De qualquer maneira, quando se constatou a morte do Kurt Cobain, foi um dia triste. Foi uma das personagens que mais me fez sentir o seu desaparecimento”, afirma, em conversa com o JPN.

No que diz respeito à relação restrita que Kurt tinha com os media, Zé Pedro diz compreender. “O Cobain sempre foi uma personagem que rejeitou muito o sucesso, não lidava bem com a exposição pública, portanto, era normal que fosse reservado com a imprensa. Ele teve muitos problemas com a [revista] Vanity Fair devido a exposições de uma entrevista da sua mulher [Courtney Love], que o levou ainda mais a ficar refugiado e a não ligar muito à imprensa”, explica o músico.

Todavia, apesar da rejeição da fama, Zé Pedro afirma não ter qualquer dúvida da importância dos Nirvana na geração dos anos 80 e 90. “O rock era quase inexistente quando apareceu o Nevermind dos Nirvana. E foi um álbum que só com as vendas ultrapassou, por exemplo, o Michael Jackson, que era outro grande artista. Mas, de qualquer maneira, uma banda de rock com o seu segundo disco em Seattle conseguiu fazer uma caminhada destas, que nem é normal. Mas é um disco muito bom, repleto de canções e letras extraordinárias que influenciaram uma geração, não só nos Estados Unidos, mas também no mundo inteiro”.

Em jeito de conclusão, o músico defende a ideia de que o grunge não está morto. “O grunge foi um movimento que existiu, assim como o Punk Rock, que derivou no aparecimento de muitas bandas, algumas que continuam a existir, como os Pearl Jam e os Soundgarden. Portanto, não se pode dizer que o movimento (grunge) tenha morrido”.

https://youtu.be/_IBWbpJdRMQ