“O Porto hoje está diferente”, começa por dizer Fernando Santos, responsável pela galeria homónima, a propósito da relação da arte com o turismo. Apesar de ter sido considerado o melhor destino europeu no ano passado e o turismo na cidade ter aumentado bastante, “não quer dizer que tenha mais gente nas galerias”, ressalva.

A altura em que recebem mais visitantes é a das inaugurações simultâneas, que ocorrem a cada mês e meio, em que todas as galerias participam e apresentam novas exposições. Ainda assim, Fernando Santos explica que “há movimento nesse dia, depois as coisas acalmam”.

No entanto, Aurora Lima, colaboradora da galeria Vantag, lamenta que, mesmo nesses dias, muitos dos visitantes “gostam é de ver e ser vistos e, portanto, ficam fora das galerias a passear de um lado para o outro”. “Poucos se dignam a entrar, a ver com olhos de ver e a ter um contacto com o que se faz aqui. Há pessoas que olham só de fora e que acham que uma exposição se vê de fora”, critica, acrescentando que esses visitantes “nem compram nem apreciam”.

No outro extremo da rua, na galeria Ap’arte, Cátia Brandão explica que, para atraírem mais clientes, apresentam “exposições de grande relevo que acabam por sensibilizar a comunicação social que cada vez mais nos refere nos seus meios”. No entanto, Fernando Santos considera que o papel dos media na divulgação da cultura podia e devia ser muito maior: “A imprensa hoje não trabalha a cultura. É a sua pior inimiga. Não divulga as iniciativas culturais que há no país. Porquê? Porque a cultura não vende, dizem eles.”

Ainda assim, Cátia Brandão adianta que a “partilha nas redes sociais e comunicação direta com o público” é um dos pontos fortes da galeria.

E quem mais visita as galerias de Miguel Bombarda? Os estrangeiros. “Temos tido mais estrangeiros do que portugueses, sem dúvida. Muitos franceses e holandeses.”, admite Aurora Lima. Se por um lado a colaboradora considera que esse tipo de público se interessa “bastante pelo que se passa na arte cá em Portugal e no Porto”, Fernando Santos salienta a desilusão que já sentiu de alguns que o visitaram. “Os turistas chegam e [perguntam] ‘isto aqui é que são as galerias? Onde existe o tal soul?’”. Mesmo admitindo que “a Miguel Bombarda está anunciada como um grande polo de cultura” considera que, na prática, isso “é mentira”. “Não podemos chamar hoje à rua das galerias um polo cultural forte. Os turistas que vêm de países com uma forte componente cultural – ingleses, franceses, americanos, ou de outros países que dão valor à cultura e trabalham bem essa área – chegam aqui e isto não é nada”, explica Fernando Santos.

Para além dos turistas, Aurora Lima tenta também “cativar outro tipo de clientes, como os colecionadores, o que já é um pouco mais difícil neste momento.” Explica que “nunca foi um bem de primeira necessidade mas agora, até mesmo a nível de investimento, decresce um bocadinho.” Ainda assim, garante que “quem realmente gosta, compra. Quem tem esse poder de compra – sempre teve – continua a comprar e não discute sequer o preço.”

As exposições de arte da Rua Miguel Bombarda, que estão abertas desde o dia 2 de maio com os artistas Cristina Mateus, na galeria Fernando Santos, Cruzeiro Seixas e Abraham Dubcovsky, na Ap’arte, e Pedro Bruschy, na Vantag, irão permanecer até 13 de junho.

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