O “conflito interno entre ir e ficar e o caminho que nunca termina”. À partida a ideia pode parecer um pouco abstrata, mas esse acaba por ser também um dos objetivos do teatro: levar o público à reflexão. “ATEQUANDO” é a nova peça do Teatro Universitário do Porto (TUP) que estreia já na quinta-feira à noite.

O ponto de partida para a construção da peça foi o passado do TUP. Ainda que “ATEQUANDO” não reflita esta viagem à memória do teatro, este foi o motor de construção de um espetáculo de raíz, “fortemente TUP na sua criação e na sua execução”.

Orlando Gilberto-Castro, presidente da direção, conta ao JPN que o objetivo foi criar algo inteiramente concebido pelos membros do TUP. O passo inicial foi visitar o imaginário do grupo, trabalhos antigos e o património imaterial deixado ao longo dos anos. “O TUP existe desde 1948 e estivemos a ver fotografias, a vasculhar um bocado os arquivos, a beber de toda essa história e de todas essas coisas que já passaram por onde nós estamos agora e utilizamos isso como um motor para começarmos a trabalhar”, explica ao JPN.

Daí surgiu algo completamente diferente. A primeira peça do ano fala “sobre a procura e a busca por um caminho que nunca chega a acontecer”. O texto e a encenação de “ATEQUANDO” são da autoria de Raquel S., sócia e antiga diretora do TUP e o elenco é formado por nove pessoas, seis atores e três participantes especiais.

TUP recebeu 330 candidaturas

Para além da peça “ATEQUANDO”, o TUP prepara já novos espetáculos. Um deles acontece em junho e culmina com o final do Curso de Iniciação à Interpretação, lançado pelo teatro de dois em dois anos. “Há uma fase de aulas e uma fase de ensaios que termina num espetáculo que tem sempre características particulares por ser o do curso de iniciação. E é sempre um curso grande, um elenco grande”, revela Orlando Gilberto-Castro.

Preços

A peça “ATEQUANDO” vai estar em cena de 11 a 20 de fevereiro, às 22h00, nas instalações do TUP, na Praça Coronel Pacheco. Os preços dos bilhetes variam entre os cinco euros para o público em geral, quatro para os estudantes e três para os membros do TUP.

Este ano o TUP recebeu 330 candidaturas, um número que deixou a organização surpreendida e satisfeita. Ainda que depois tenham realizado pouco mais de 50 audições para apurar os 20 novos membros, esta procura é algo que alimenta a força do teatro e da equipa. “É mesmo bom perceber que há toda esta vontade de trabalhar connosco e de mergulhar nos nossos projetos”, indica o diretor.

Embora o teatro faça parte da Universidade do Porto, é livre e acolhe todos os que queiram fazer parte. A multidisciplinaridade dos voluntários confere aos espetáculos um caráter único e as idades vão dos 18 aos 38 anos. “O TUP não procura formar atores profissionais que tenham uma série de competências muito estandardizadas, pretendemos dar ferramentas para que cada um possa utilizar aquilo que já tem e aquilo em que se sente confortável”, explica Orlando.

Ao longo dos anos são muitos os que vão abraçando o projeto e não há forma de contabilizar os sócios do TUP. Há sempre gente interessada, gente que se ausenta durante uns anos e volta, membros dispostos a continuar. O público também não é problema para o teatro. Por norma há sempre “casa cheia”, com a taxa de ocupação a rondar os 80%.

As instalações

A peça “ATEQUANDO” vai ser apresentada ao público num auditório da antiga Escola de Artes, na praça Coronel Pacheco, cedido “amavelmente” pela ACE-Teatro do Bolhão. Parte das instalações são, por agora, a “casa” do Teatro Universitário do Porto. A luta por um espaço próprio para ensaios e espetáculos é já uma questão antiga e têm sido feitos esforços para a resolver junto da reitoria da Universidade do Porto.

“Quer este complexo da ACE que nos foi emprestado, quer o nosso antigo edifício pertencem à reitoria. Tivemos de sair por ordem deles por questões de segurança, o que nós compreendemos, sendo que não nos foi dada propriamente uma alternativa”, afirma Orlando. Apesar das limitações do espaço, o TUP está a tentar gerir a situação da melhor forma e a prioridade é não parar a atividade, que se mantém ininterrupta desde 1948.

“Neste momento o que estamos a tentar é que a nossa permanência nas atuais instalações, com todos os seus problemas, se torne definitiva. Isso permite-nos fazer outro tipo de atividade, com outra segurança. Estamos em nossa casa e temos um tipo de abordagem diferente”, conclui o presidente da direção.