Mas para Helena Vilaça, socióloga, e para o padre Rui Osório, o filme não criará igual polémica em Portugal.

“Estou curiosíssimo”. É assim que o padre Américo, da Diocese do Porto, começa a falar do filme realizado por Mel Gibson. “Fazem parte do nosso imaginário filmes como este. E toda esta polémica nos Estados Unidos fez aguçar a curiosidade”, afirma. Mas para o padre Rui Ósorio, também da Diocese do Porto, o filme não vai ser polémico no nosso país. “Já o vi e devo dizer que não creio que os judeus que vivem em Portugal se possam sentir particularmente ofendidos. Acredito no espírito de tolerância entre as comunidades religiosas portuguesas”, refere.

Helena Vilaça, socióloga com investigações na área do pluralismo religioso, partilha essa opinião. “O filme não criará grande polémica na sociedade portuguesa. Aliás, não faz sentido uma reacção dessas em Portugal. A comunidade judaica não tem tanta expressividade no nosso país como nos Estados Unidos.”

O JornalismoPortoNet tentou contactar a Comunidade Israelita de Lisboa, que apenas poderia falar connosco durante o dia de hoje. Mas Esther Mucznik, porta-voz da comunidade judaica em Portugal, adiantou à agência Lusa que o filme é “mau, de uma violência atroz”. Também Isaac Assor, presidente da Comunidade Israelita, em declarações ao JN, havia referido que não gostou de “A Paixão de Cristo”, criticando algumas imprecisões que ele conteria.

“O filme é obsessivamente violento”

A existir polémica, ela poderá passar pela violência do filme. De acordo com o padre Rui Osório, “o filme é obsessivamente violento. É de uma violência atroz. Mas parece bastante realista”. Por essas razões, acredita que, a um espectador comum, “A Paixão de Cristo” possa impressionar. O padre Rui Osório chega mesmo a considerar que a “brutalidade da violência se pode sobrepôr a outros aspectos do filme”.

Portugal é dos primeiros países do Mundo a ver o filme

Mel Gibson tem respondido aos que acusam o filme de ser anti-semitista e de ser extremamente violento. O actor e realizador australiano revelou mesmo que o Papa João Paulo II já visionou a obra e terá gostado. Desde a sua rodagem em Itália, o filme tem criado polémica. No estado norte-americano do Kansas, uma mulher de 56 anos morreu de ataque cardíaco a vê-lo. No continente europeu, “A Paixão de Cristo” apenas estreou comercialmente na Polónia. Portugal é aliás o segundo país da Europa a vê-lo e um dos primeiros países no Mundo. Na Irlanda, o filme estreia no dia 12, mas no resto da Europa, só depois de 26 de Março.

Questionada sobre o facto de “A Paixão de Cristo” estrear primeiro em Portugal e na Polónia, países com uma população maioritariamente católica, a responsável da distribuidora Lusomundo pela promoção deste filme, Elisa Nazaré, afirmou que “essas foram as orientações internacionais”.

A campanha da distribuidora tem também apostado na colocação de cartazes em paróquias e igrejas, facto que a socióloga Helena Vilaça não estranha. “É profundamente natural que a Igreja Católica se alie a um filme feito por Mel Gibson, um realizador que é um católico conservador”, refere. Para o padre Rui Osório, o período de Quaresma e a aproximação da Páscoa serão um meio de promoção do filme.

Bilheteiras ainda à espera de maior procura

37 é o número de salas em que o filme vai estrear em Portugal. Alguns centros comerciais colocaram os bilhetes à venda há uma semana. Mas a procura nos cinemas ainda não tem sido tanta como a desejada, pelo menos no Arrábida Shopping, onde o filme só provavelmente esgotará na sexta-feira à noite. Nada que se compare aos dois filmes de Harry Potter, de “O Homem-Aranha” ou de “À Procura de Nemo”, que esgotaram no dia de estreia e fim-de-semana seguinte. Mesmo assim, Elisa Nazaré, da Lusomundo, revelou que a corrida aos bilhetes tem superado as expectativas. “A campanha tem corrido bem. Mas é sempre tudo incerto”, disse.

Recorde-se que nos Estados Unidos se esperava que o filme não tivesse tanto sucesso, fruto da pressão da comunidade judaica. O efeito foi contrário e “A Paixão de Cristo” é já o filme mais lucrativo de 2004, mantendo-se, de acordo com o jornal Variety, há duas semanas como número 1 do “box-office”.

Daniel Vaz
FOTO: www.thepassionofthechrist.com