Sheikh Ahmad Yassin, líder espiritual do grupo palestiniano Hamas, morreu esta madrugada na sequência de um ataque aéreo israelita.

O ataque das forças de segurança israelitas a Yassin ocorreu quando o líder regressava de uma mesquita na cidade de Gaza, de madrugada. O ataque provocou 9 mortes e deixou feridas, pelo menos, 15 pessoas. De acordo com a BBC, dois seguranças e um dos filhos de Yassin terão morrido no ataque.
Já esta manhã dezenas de milhares de palestinianos sairam às ruas de Gaza em protesto contra o governo israelita pela morte do líder espiritual palestiniano. Ainda de acordo com a BBC, o Hamas afirmou que o Primeiro-ministro Ariel Sharon tinha “aberto as portas do Inferno”.

Os manifestantes palestinianos, em Gaza, gritaram palavras de ordem contra o governo de Sharon e pediram vingança. Muitos acompanharam a procissão funebre e tentaram mesmo tocar o caixão de Yassin, que ia coberto com a bandeira verde do Hamas. Os palestinianos choram a morte daquele que já era um simbolo islâmico. Um líder político do Hamas, Abdul Aziz al Rantissi, citado hoje pela BBC, terá chamado “assassinos de profetas” aos membros do executivo de Ariel Sharon.
Depois da morte de Yassin, Israel fechou as fronteiras terrestres, para impedir a entrada de palestinianos, e está em estado de alerta máximo, tentando antever a resposta do Hamas. Na opinião de Milan Rados, Professor de Ciência Política da UP, “pelo que vimos até agora, é certo que os terroristas palestinianos vão responder”.

“Política de liquidação deve continuar”

David Bukay, professor de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade de Haifa (em Israel), defendeu, hoje, em declarações ao JornalismoPortoNet, a via da liquidação dos líderes do Hamas. David Bukay disse mesmo que “Graças a Deus, liquidamos um dos líderes terroristas. Deviamos tê-lo feito há muitos anos. Espero que Israel vá atrás de outros líderes terroristas e faça o mesmo. Não deviam estar vivos”.
No campo oposto está Milan Rados, também professor de Ciência Política mas na Universidade do Porto. “Não se pode combater o terrorismo com o método dos terroristas porque se cai no terrorismo que se quer combater. Com violência não se chega à paz nem ao entendimento. O que aconteceu hoje de manhã vai significar um aumento de violência”, explicou Milan Rados ao JornalismoPortoNet.
O israelita David Bukay afirma que não tem medo que este atentado provoque uma vaga maior de violência por parte dos terroristas que “tentam, dia e noite, desde o inico, matar israelitas e trazer mais e mais bombas para Israel”. O professor universitário em Haifa acredita que com ou sem a execução de Yassin, a violência seria a mesma. Bukay lamenta que o governo israelita não assegure aos cidadãos condições básicas de segurança.

David Bukay acrescenta ainda não ter medo da resposta terrorista. “Não tenho medo, tenho vergonha. Escondemo-nos e temos medo há mais de 10 anos”, confessa. O israelita, professor em Haifa, acredita que “se Israel quer viver, têm que eliminar os líderes da organização terrorista”. Bukay lamenta que, até agora, Israel não o tenha feito e diz: “terroristas como Yassin não deviam estar vivos”.

Combater o terrorismo com terrorismo é cair nele

Milan Rados é peremptório: “a violência não pode acabar com o terrorismo. É necessário encontrar vias de entendimento, criar condições para um cessar fogo”.
O professor explica que para se trabalhar esse entendimento, é necessário que os terroristas suspendam os actos de violência e só depois se iniciam negociações. “Só assim é possivel resolver o problema”, afirma. Milan Rados tem uma opinião diferente da de David Bukay. “A ideia de que através de uma acção violenta se pode neutralizar o terrorismo, é um caminho absolutamente errado”. O professor de Ciência Política na UP lembra, a titulo de exemplo, o que aconteceu na Bosnia, no Kosovo e, mais recentemente, no Iraque. Milan Rados ainda acredita que a diplomacia pode solucionar guerras contra o terrorismo. “O último indicador nesse sentido é o caso do IRA e do Reino Unido. Primeiro pediu-se ao IRA que deixasse de actuar. O IRA deixou de actuar, começou a entregar armas e só nessa situação se avançou com o acordo de paz, que é fragil mas já não se morre na Irlanda do Norte”, diz.

Ana Isabel Pereira

Foto: The Palestinian Academic Society for the Study of International Affairs