“Somos cobaias de uma má experiência, que não tem controlo.” É assim que se refere Margarida Silva, coordenadora do grupo de Estudos Ambientais da Universidade Católica do Porto e representante da Quercus, a um dos temas mais polémicos da ciência – os transgénicos. “Eles representam uma caixa preta em termos de impacto na saúde”, acrescenta, em entrevista ao JornalismoPortoNet.

Para Margarida Silva, os portugueses são “dos menos esclarecidos da União Europeia” sobre o tema. A opinião da bióloga confirma os resultados de um inquérito realizado pelo JornalismoPortoNet. Quase 90% dos portugueses não sabe o que são transgénicos. Muitos referem que já ouviram falar, mas não sabem do que se trata.

O que são os transgénicos?

Os transgénicos ou OGM (organismos geneticamente modificados) são organismos a que foram adicionados genes de outras espécies, com o intuito de adquirirem uma nova característica – resistirem a pragas de insectos, uma vez que esse gene produz uma substância tóxica para os predadores das plantas. Além de ficarem mais resistentes, essas plantas adquirem uma maior possibilidade de conservação.

A soja e o milho foram os primeiros alimentos a serem geneticamente modificados. Portugal já produziu milho transgénico em 1999, mas actualmente não produz, limitando-se a importar. Na União Europeia, a Espanha é o maior produtor de alimentos transgénicos.

Opiniões dividem-se

A comunidade científica não tem uma posição uniforme em relação ao tema. Uns defendem os transgénicos. Outros condenam. “Temos aqueles que defendem os transgénicos, dizendo que os avanços científicos implicam riscos. Acrescentam que o valor nutricional dos alimentos pode ser melhorado e dizem também que os transgénicos podem resolver a questão alimentar dos países menos desenvolvidos, por permitirem uma maior produtividade”, refere Isabel Fernandes, nutricionista.

Depois, temos aqueles que estão contra os transgénicos, apontando-lhes muitos inconvenientes. “Estamos a arriscar a nossa vida a troco de nada”, pois os transgénicos têm vários inconvenientes, considera Margarida Silva. Um deles é a inexistência de estudos que mostrem os seus efeitos nos seres humanos. “Não sabemos se alguém morreu por causa deles”, acrescenta.

A contaminação dos solos é outra das preocupações. Experiências demonstram que a toxina Bt do milho geneticamente modificado passa para o solo, onde permanece durante anos. A biodiversidade está também em causa, garantem os ambientalistas. “Os genes da planta geneticamente modificada matam os insectos que a comem. Mas há experiências que mostram que joaninhas, que comeram insectos, que comeram transgénicos, também morreram”, afirma Isabel Fernandes.

Mas afinal onde é que eles estão?

“Desde bolachas, a salsichas, chocolates, pizzas, hamburguers, cereais, tudo pode ter transgénicos”, refere Margarida Silva. Em Novembro de 2002, a DECO publicou um artigo que mostrava os resultados de uma análise a 50 alimentos comercializados em Portugal. 5 deles tinham transgénicos em quantidades baixas. Em 35 alimentos não foi possível analisar o ADN, o que quer dizer que podiam ter transgénicos.

Rotulagem é obrigatória?

Portugal segue a lei europeia em relação aos transgénicos. A rotulagem é obrigatória em alimentos com mais de 1% de transgénicos. “Aqueles que têm menos de 1% não necessitam de indicar isso no rótulo. Quer isso dizer que já todos comemos transgénicos, mesmo que em pequenas quantidades”, garante a nutricionista Isabel Fernandes. “Mas a rotulagem nem sempre é cumprida. Está a ser violado o nosso direito de escolha”, refere Margarida Silva.

Daniel Vaz

FOTO: JornalismoPortoNet