A exibição não foi tão brilhante quanto a do jogo com o Manchester. Foi, no entanto, mais eficaz. Não foi um Porto de gala, mas foi um bom Porto, concentrado o suficiente para justificar a vitória.

O treinador do Lyon apostou de início em três avançados: Luyindula, Govou e Elber. Três setas apontadas para a baliza, mas que nunca haveriam de lá chegar com perigo. O maior erro de Paul Le Guen foi ter desprezado o meio campo do Porto. O sector mais forte da equipa de José Mourinho estava ontem reforçado. Já não basta a qualidade, ontem estava também preenchido com quantidade. Cinco médios, que mais pareciam seis tais eram as vezes que Paulo Ferreira subia pela sua lateral, foram demais para os três do Olympique. Não é de estranhar, pois, que o Porto tenha dominado desde o primeiro minuto. Apesar de faltar alguma profundidade no ataque (McCarthy pareceu sempre muito desapoiado), o F.C.Porto foi insistindo através de boas jogadas, principalmente sobre o lado esquerdo da defesa francesa. E já diz o ditado popular, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. E só “furou” já bem bem perto do intervalo. Boa jogada de Carlos Alberto, novamente pela direita, e cruzamento ao segundo poste onde McCarthy enche o pé levando a bola a traçar uma paralela à baliza. Deco aparece para encostar. Estava feito o primeiro do Porto.

Na segunda parte, o treinador francês apercebeu-se de onde vinha a força dos portugueses. Não é de estranhar que tenha reforçado o meio-campo com a entrada de Dhorasso. E o Lyon melhorou muito e equilibrou. José Mourinho sentiu necessidade de alterar o modelo de jogo. Troca Carlos Alberto por Jankauskas e o Porto passa a jogar um futebol muito mais directo. A equipa do Lyon procurou marcar o tal golo fora que nestas eliminatórias é sempre importante e dessa forma abriram-se mais espaços para jogar. O Porto acabou por chegar ao segundo golo através de quem mais o merecia, Ricardo Carvalho. Em livre de Deco, cruzamento para a área e Ricardo Carvalho de cabeça a fazer o golo da tranquilidade.

Mourinho tinha dito que empatar era bom e ganhar óptimo. Saiu-lhe a segunda hipótese e por números que podem ser decisivos para o jogo da segunda mão em Lyon. A equipa francesa tem de marcar 3 golos e não consentir nenhum. Recorde-se que este Porto, nesta época, só num dos 41 jogos disputados ficou em branco e nunca perdeu fora de casa. Tarefa complicada para os franceses. Mas, como fizeram questão de referir, não impossível.

O F.C.Porto

Ricardo Carvalho merece o destaque de melhor em campo. Para além de uma serenidade incrível e de uma voz de comando firme na defesa portista, ainda teve tempo de ir lá à frente fazer o golo da tranquilidade. Um exibição sem mácula. Fica na retina a tranquilidade com que saiu a jogar num lance de perigo da equipa adversária, lançando um contra-ataque e aparecendo lá na frente, desmarcado e com possibilidades de finalizar. Seria injusto não elogiar também Pedro Emanuel. O parceiro de Ricardo Carvalho esteve impecável e não falhou um lance. A completar a defesa portista destacou-se Paulo Ferreira. Dono de um pulmão impressionante, o melhor lateral direito da Europa na última época para a UEFA, encheu o meio-campo sem nunca se esquecer da defesa. Merecem também destaque Maniche e Deco. O primeiro controlou o campo todo, quer na recuperação defensiva quer no lançamento do ataque. Quanto a Deco, o “mágico” parece que surge quando é preciso. Apesar de nem sempre ganhar os lances individuais, Deco nunca se escondeu, procurando assumir o jogo sempre que possível. Para além disso, foi dele o primeiro golo e a assistência para o segundo.

O Olympique de Lyon

Foi só após o intervalo que o Lyon pôde dar um ar da sua graça.A isso não foi alheia a entrada de Dhorasoo. Posicionado sobre o lado esquerdo do meio campo, descansou o lateral Malouda e ajudou a frente atacante dos franceses. Senhor de uma velocidade impressionante, Dhorasoo aliviou também o trabalho de Diarra que na primeira parte se destacou nas tarefas defensivas. Boas exibições também de Edmilson e Coupet. O guarda redes internacional francês não teve muito trabalho difícil, mas respondeu sempre de boa forma quando solicitado.

O árbitro

Terge Hauge não teve um jogo de grande dificuldade. Não houve lances polémicos e não teve influência no resultado. Nem assim, porém, mostrou grande classe. Indeciso e inseguro, falhou algumas vezes no critério disciplinar e aparecia sempre muito longe da bola. Pouco rigoroso nas distâncias, nunca conseguiu mostrar a categoria necessária para um jogo de quartos de final da Liga dos Campeões.

Reacções

Em conferência de imprensa, José Mourinho considerou a vitória “excepcional mas não decisiva”. Mourinho pensa que se o Porto fizer o habitual no jogo da segunda mão, tem “boas” possibilidades de apuramento. O treinador dos azuis e brancos, num discurso nitidamente virado para dentro do balneário, apelou aos jornalistas: “vocês podem ajudar-me ou prejudicar-me na gestão da equipa com aquilo que disserem e escreverem”. A finalizar, Mourinho alertou para a qualidade do Lyon invocando os últimos 15 minutos do jogo de ontem: “será isso que nos espera lá”. Ricardo Carvalho desvalorizou mais uma boa exibição pessoal, considerando que para já não vale a pena falar da hipótese de sair do clube, e afirmando que a sua “única preocupação é ajudar a equipa.”

Paul Le Guen mostrou-se resignado e triste com os resultados. Após o jogo constatou que os jogadores do Lyon nunca “conseguiram segurar a bola”. O treinador considera que 2-0 é um resultado que não serve mas mostrou-se esperançado em conseguir “virar” a eliminatória em França, contando com o apoio dos adeptos franceses. “Difícil mas não impossível” foi a expressão utilizada.

Quartos de final da Liga dos Campeões

Estádio do Dragão (46910 espectadores)
Árbitro : Terge Hauge (Noruega)
F.C.Porto – Vitor Baía, Paulo Ferreira, Pedro Emanuel, Ricardo Carvalho e Nuno Valente, Costinha (Bosingwa aos 78’), Maniche, Alenitchev (Ricardo Fernandes aos 82’), Deco e Carlos Alberto (Jankauskas aos 57’), Benni McCarthy.

O.Lyon – Coupet, Deflandre (Reveillére aos 73’), Edmilson, Muller e Malouda, Essien, Diarra e Juninho (Dhorasoo aos 45’), Govou, Luyindula e Élber.

Golos: 1-0 Deco (43’), 2-0 Ricardo Carvalho (71’)
Disciplina : Amarelos a Nuno Valente(32’), Bosingwa(83’), Ricardo Fernandes (81’), Malouda(60’), Patrick Muller(89’)

André Morais