A obra é da autoria de Alexandra Oliveira, assistente na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, e foi elaborada no âmbito do mestrado. A investigadora refere que a publicação não estava prevista, mas que fica “muito contente por saber que está a atingir um público em geral e não só o público académico”.

Alexandra Oliveira explica que o objectivo era “fazer uma caracterização dos tipos de trabalhos, das mulheres que os fazem e dos contextos onde estes decorrem”. Para o fazer, partiu de entrevistas, observação e análise de conteúdo dos anúncios “sexuais” que as mulheres colocam nos jornais. A autora refere ainda que procurou alargar o seu “objecto de estudo” e, por isso, entrevistou “prostitutas, alternadeiras e stripers” e também pessoas ligadas ao meio, tais como “gerentes, donos e clientes”.

A investigadora afirma que o estudo veio deitar por terra alguns dos estereótipos veiculados sobre estes temas. Segundo Alexandra Oliveira “não há nenhum padrão”. Há sim “uma grande diversidade”, quer de “actrizes”, quer de “práticas, contextos, idades e níveis sócio-económicos”.

Principais conclusões

O estudo mostra que a própria questão do poder sobre o trabalho é variável. “Há, na rua, situações de mulheres perfeitamente independentes e que gerem o seu dinheiro e o seu negócio”, mas também “há outras que são exploradas”. A investigação revela ainda que esta exploração se verifica em todo o tipo de “trabalho sexual”, quer seja na rua, quer no “interior”. Alexandra Oliveira concluiu também que há muitas estrangeiras e que, “ao contrário do que se pensa”, nem todas vêm inseridas em redes de tráfico e de exploração sexual.

Outra das conclusões mostra que na rua “há uma grande percentagem” de prostitutas toxicodependentes, “enquanto que no ‘interior’ não”. Isto, segundo a autora pode ter a ver com as próprias especificidades deste tipo de trabalho.

Segundo a investigadora, o uso do preservativo “é generalizado”, embora haja um grupo de mulheres que abre excepção: as toxicodependentes. Mas, no que toca aos cuidados de saúde em termos de consultas e exames médicos, Alexandra Oliveira concluiu que “esta preocupação está muito mais presente nas trabalhadoras sexuais de interior do que nas prostitutas de rua”. As primeiras, normalmente, “têm um nível de escolaridade mais elevado” e “sabem que o seu corpo é imprescindível para ganhar dinheiro”, por isso têm mais cuidado com a saúde.

A investigadora afirma que todas as mulheres envolvidas neste tipo de trabalho fazem-no por dinheiro, embora umas o façam por necessidade económica e outras por “necessidade de adquirir conforto a médio e a longo prazo”.

Alexandra Oliveira afirma ainda que estas mulheres são iguais a todas as outras e que não acha o trabalho imoral. A autora diz mesmo que, na sua opinião, este deve ser encarado como uma actividade profissional, mas realça que não é um trabalho como qualquer outro, “precisamente pelo estigma que há em relação a ele”. Estigma este que causa “grandes níveis de sofrimento” às pessoas envolvidas.