As unidades de saúde da Maia e de Ermesinde ocupam os últimos lugares no ranking do estudo efectuado pela Deco/Teste Saúde. O Centro de Saúde de Espinho foi considerado o melhor da zona Norte. De um modo geral, o estudo agora publicado veio confirmar que os portugueses estão descontentes com os serviços de saúde que lhes são prestados. Segundo o estudo, as regiões do Norte e do Algarve têm os piores centros de saúde de Portugal.

Foram inquiridos cerca de cinco mil utentes dos centros de saúde de todo o país, sendo que esta amostra permitiu classificar 70 centros de saúde.

Realizado em Junho e Julho do ano passado, este estudo não revela muitas melhorias relativamente a 2000, altura em que foi efectuado o último inquérito aos utentes de centros de saúde.

Os pontos fracos

Elevado tempo de espera pelas consultas, impossibilidade de escolher o médico de família, mau funcionamento dos serviços administrativos e falta de informação são as principais queixas de quem tem de recorrer aos serviços dos centros de saúde em Portugal. Este é também o resultado de um estudo feito pela DECO, a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor. Os resultados são publicados na edição de Abril da revista “Teste Saúde”.

De todas as queixas apresentadas, a mais frequente é o tempo de espera pela consulta. Quase um terço dos inquiridos diz esperar um mês ou mais para ser observado pelo seu médico de família. Esta percentagem sobe para 60% no caso das consultas de especialidade. O estudo revela ainda que, no próprio dia da consulta, cerca de um quarto dos utentes têm pela frente uma espera de pelo menos duas horas até serem atendidos pelo médico de família.

Marcar consultas também pode ser um incómodo acrescido. Alguns dos centros de saúde classificados pelo estudo da Deco exigem a deslocação do utente ao centro para fazer a marcação, pois não são aceites marcações por telefone. De acordo com os resultados do estudo, um em cada três utentes vê-se obrigado a deslocar-se ao seu centro de saúde apenas para marcar uma consulta. Depois, esse utente poderá ter pela frente duas fases de espera: a primeira até ao dia da consulta e a segunda no dia em que é atendido pelo médico.

Todos esses factores são ainda os responsáveis pelo crescente recurso aos serviços de saúde privados. Quem tem possibilidades económicas acaba por abrir os cordões à bolsa, a fim de evitar os incómodos das longas esperas para marcar consultas e para ser recebido pelo médico.

Os últimos do “ranking”

O Centro de Saúde de Ermesinde está entre os piores classificados pelo estudo da Deco. O JornalismoPortoNet (JPN) falou com o director da referida unidade de saúde, Carlos Valente, que se mostrou pouco confiante no estudo apresentado pela Deco. Carlos Valente diz que não consegue encontrar motivos que justifiquem a colocação do Centro de Saúde de Ermesinde no ranking dos piores do país. “A realidade que eu vivo aqui todos os dias não justifica os resultados do estudo”, disse Carlos Valente ao JPN.
O director da referida unidade de saúde põe em causa a amostra seleccionada pela Deco e refere que é “preciso dizer como é que foi recolhida essa amostra, sobre que população incidiu e, em face desse conhecimento, saber se é lícito ou não inferir resultados para o total da população utilizadora deste estabelecimento de saúde, que são 60 mil pessoas”. “Gostaria de saber pormenores a respeito da recolha dos dados”, sublinha Carlos Valente.

O JPN contactou o coordenador do estudo da Deco, Carlos Morgado, que garantiu que “a amostra é totalmente representativa por sexo, idade e região”, e que permitiu “fazer comparações individuais entre centros de saúde”.

Relativamente aos atrasos nas consultas, o director do Centro de Saúde de Ermesinde referiu que não tem encontrado queixas. “Não me parece justo“. Foi assim que Carlos Valente reagiu ao resultado do inquérito no que toca à demora na marcação das consultas.

O director do Centro de Saúde de Ermesinde, classificado pelo estudo da Deco como um dos piores, considera que esta unidade de saúde tem condições para receber os utentes, mas refere que há “um conjunto de população a quem ainda não é possível atribuir um médico de família”, admitindo que esse grupo é grande e que a situação “causa constrangimentos”.

Algumas notas positivas

Mas os centros de saúde em Portugal não se fazem apenas de desvantagens. Um dos grandes trunfos é a pouca distância que a maioria dos inquiridos diz ter de percorrer desde casa até à unidade de saúde da sua área de residência. Este foi um dos poucos aspectos positivos referidos pelos utentes sobre os centros de saúde. Cerca de 70% dos inquiridos refere que a distância entre o centro de saúde e a sua residência não é um problema. Aproveitando este resultado, a Deco alertou para o facto de essa proximidade ser um importante motivo para que a qualidade do atendimento nos centros de saúde seja melhorada.

Espanha com nota positiva

O estudo agora apresentado estabelece ainda uma comparação com a vizinha Espanha. De acordo com a Deco, os espanhóis não têm de esperar tanto tempo para fazer uma consulta. Enquanto que um utente português pode esperar cerca de um mês por uma consulta, em Espanha é possível obter o mesmo tipo de consulta de um dia para o outro.

Ana Correia Costa