Em entrevista ao JornalismoPortoNet, a directora do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), entidade responsável pela programação do Planetário, referiu que, neste momento, o Planetário do Porto debate-se com duas dificuldades. Uma é a programação, que se mantém inalterada há quatro anos. Outra é a falta de divulgação.

CAUP mantém sessões

No seguimento da polémica em torno do financiamento do Planetário, Teresa Lago esclarece que “desde 2002 o Centro de Astrofísica tem apenas o compromisso verbal de manter as sessões em funcionamento. Para isso é pago, pois é uma aquisição de serviços”. A directora do CAUP explica ainda que não foi feita uma nova programação porque não houve um orçamento para o Planetário. “Nós não temos mais do que manter as sessões enquanto for possível, porque não queremos que isto feche. Isto foi um projecto em que o Centro de Astrofísica se envolveu e investiu muito e que considera muito importante, e é preciso fazer tudo para que não pare”, sustenta Teresa Lago.

A divulgação científica passa pelo Planetário

“É absolutamente essencial para a divulgação da ciência”, é assim que Teresa Lago define a importância do Planetário do Porto. “É a única instituição que tem uma ligação próxima a um centro de investigação, que é o CAUP. Nós somos uma instituição de investigação e, ao ter pessoas nossas a trabalhar no Planetário (que não são investigadores, mas que têm o back-up de todos os investigadores), temos condições únicas no país para fazer sessões cujo conteúdo é absolutamente correcto cientificamente e que vai sendo actualizado conforme o que vai aparecendo e o que vai sendo descoberto. E como são sessões ao vivo, quase todos os dias surgem as novidades que a astronomia actual tem”.

“Não há sessões novas”

A quebra de um protocolo, em 2002, entre a Câmara do Porto, Centro de Astrofísica e Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) , está na origem da ausência de um orçamento de funcionamento para o Planetário do Porto desde essa altura. Teresa Lago queixa-se de indefinição por parte da Fundação Ciência e Desenvolvimento (FCD), a proprietária do Planetário, pois não se sabe, desde 2002, quem define o programa. As mesmas sessões são repetidas há quatro anos, como é o caso do programa “O Vítor vai à Lua”. “Para haver sessões novas é preciso haver um orçamento de funcionamento anual e uma proposta de programa que seja aprovada e acordada por quem tem obrigação de gerir. Mas neste momento não se sabe quem tem obrigação de gerir”, remata a directora do CAUP. “Sabe-se quem é o dono, mas não há nada que diga que também é a FCD que define o programa”.

“O que nós estamos a fazer é, por convicção científica e porque achamos que é muito importante para a Ciência, manter os programas que oferecíamos há dois anos atrás. Com a mesma qualidade, com o mesmo profissionalismo, mas são os programas que eram oferecidos há quatro anos atrás. Há 4 sessões, e essas sessões foram criadas e apresentadas ao ritmo de duas por ano. Mas há dois anos que não há nada novo, porque há uma indefinição sobre o programa. Não há programa, não há aprovação, não há proposta, não há nada. Nem há orçamento. Só há dinheiro para pagar às pessoas que fazem as sessões, mais nada. No entanto, alguns dos materiais que são usados nas sessões estão a precisar urgentemente de renovação, há mais de um ano que essa informação foi dada, mas como não há orçamento não há renovação. Não vai ser o Centro de Astrofísica a pagar as sessões do Planetário. O CAUP não pode fazer isso. O Centro da Astrofísica tem de dar contas do dinheiro que recebe, mas é para investigação, não é para o Planetário do Porto”.

“Nunca existiu uma campanha de publicidade”

Teresa Lago lamenta também a falta de divulgação do Planetário. De acordo com a directora do Centro de Astrofísica, “há muita gente que não vem porque o Planetário nem sequer foi divulgado. “Quando o Planetário arrancou, chegou a estar preparada uma campanha de publicidade, só que depois nunca foi feita”, garante Teresa Lago. Apesar disso, “o Planetário já teve 170 mil visitantes, que é exactamente ao contrário do que dizem, pois o número não está a decrescer”, afirma . “A mim espanta-me que continue a ter visitantes”, porque, como refere a directora do CAUP, “ninguém diz: existe um Planetário, venham ver”. “Não existe, nunca existiu uma campanha de publicidade”, afirma Teresa Lago. “Eu diria que são os visitantes que passam a palavra aos outros”, remata.

Um projecto reconhecido no estrangeiro

Apesar da falta de divulgação, o Planetário do Porto “é um projecto que tem sido extremamente apreciado, principalmente por instituições estrangeiras, que acham que é um modelo extremamente interessante”.
Teresa Lago refere ainda que “está investido muito dinheiro público no Planetário”. “Foi junto dinheiro quer da Câmara, quer da Universidade, quer do Ministério da Ciência para fazer funcionar este equipamento”, acrescenta.

Fotos: NASA

Ana Correia Costa

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