Da gestação à concretização, foram necessários quatro anos para chegar a Portugal uma nova fonte de conhecimento científico.

A concepção do formato da Biblioteca Científica Digital (BCD), à qual a Universidade do Porto (UP) aderiu recentemente, remonta a 2000. Na altura, o Observatório para a Ciência e Tecnologia (OCT) empreendeu os primeiros esforços para a disponibilização integral de obras científicas on-line. Como resultado directo, assinou-se a Web of Knowledge (WoK).

Financiada pelo Programa Operacional Sociedade da Informação (POSI), a Wok cumpriu parcialmente os objectivos do OCT. Os utilizadores do sistema só podiam aceder a referências aos textos científicos e respectivas citações. Faltava o passo seguinte: a disponibilização integral dos textos.

Em 2002, o actual Governo cria a Unidade de Missão Inovação e Conhecimento (UMIC), responsável pela coordenação das políticas governamentais para a sociedade de informação e para a inovação. Fruto de uma colaboração com o Ministério da Ciência e do Ensino Superior (MCES), foram tomadas um conjunto de iniciativas rumo aos contornos actuais da BCD.

A um período de rondas negociais com as principais editoras e distribuidoras internacionais, seguiu-se um outro de lançamento de questionários junto de 80 instituições portuguesas (ensino superior público e privado, universidade e politécnicos, laboratórios do Estado e associados). A UMIC e o MCES pretenderam avaliar a situação respeitante às assinaturas electrónicas/papel. 70% do universo dos inquiridos reenviaram o questionário, com as respectivas respostas.

Após terem sido feitas análises de modelos de consórcios internacionais relativos a bibliotecas digitais, realizou-se uma reunião global com as instituições potencialmente aderentes. Lisboa recebeu a discussão em Janeiro do corrente ano.

Em Abril de 2004, a BCD é uma realidade na UP, resultante de um protocolo assinado com a UMIC e a Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN).

Reuniões Internacionais

A orgânica dos consórcios de bibliotecas existentes nesta área levantou dificuldades comuns. Para se centrar na resolução dos problemas, surgiu a Southern European Libraries Link (SELL), que representa os principais consórcios de bibliotecas electrónicas dos países do sul da Europa.

Dos três encontros da SELL realizados até ao momento, Portugal esteve sempre representado, apesar de não ter qualquer consórcio formalmente constituído.

As reuniões deram origem a várias acções. Destacam-se as negociações com os principais editores internacionais de publicações científicas (tendo por base modelos de negócio adequados à realidade do ensino superior europeu), a definição de políticas comuns de actuação, a divulgação de informação estratégica e prospectiva e a colaboração entre os consórcios noutros domínios relevantes (elaboração de catálogos, políticas de troca e intercâmbio).

Financiamento e sustentabilidade

O financiamento da BCD ronda os oito milhões de euros. O POSI e a UMIC assumem metade do montante, enquanto as instituições aderentes asseguram a outra parte. Clara Macedo adianta que destes 50% relativos às instituições, 10% provêm da UP.

Para se estabelecer o valor a pagar por cada entidade integrante do projecto, segue-se um procedimento pré-estabelecido. Num primeiro momento, calcula-se o número total de utilizadores. Num segundo momento, calcula-se o peso percentual dos utilizadores de cada instituição relativamente ao total. Chega-se à parcela correspondente a cada instituição multiplicando-se a percentagem calculada no segundo passo por 50% do montante a pagar às editoras.

As entidades que assinaram o protocolo de adesão a este projecto são constituídas por estabelecimentos do ensino superior público e privado, universitário e politécnico. A estas, juntam-se os laboratórios do Estado e associados.

A UMIC e o MCES conferiram a gestão técnica da BCD à FCCN, que fica responsável pelo funcionamento da infra-estrutura tecnológica. A FCCN encarrega-se ainda de actualizar/alterar os conteúdos e outras informações e pelo bom funcionamento do acesso aos recursos por parte das instituições que celebraram, ou celebrem, o protocolo.

Em 2005, prevê-se que a gestão e co-financiamento da BCD esteja a cargo de um consórcio formal de universidades e entidades com actividade científica.

Germano Oliveira