“Escrevo porque preciso”, afirma Ana Luísa Amaral, escritora e docente de Literatura Inglesa e Americana na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A escritora conta 47 anos e tem uma vida dedicada às letras.

“Depois de escrever, sinto necessidade de partilhar com alguém”, revela a escritora ao JornalismoPortoNet. Desta necessidade resultou oito livros de poemas e dois de literatura infantil: «Gaspar, o Dedo Diferente e outras histórias», o seu primeiro livro infantil, publicado em 1999, e «A História da Aranha Leopoldina».

À conversa com o JPN, Ana Luísa Amaral, fala da importância de unir o útil ao belo no livro infantil.

O que é um livro infantil?

A resposta mais óbvia é que é um livro dirigido às crianças, mas não necessariamente. Tenho dois livros de literatura para a infância que também são lidos por adultos. Infância pressupõe crianças e o lado dos adultos que remonta à infância.

Como se escreve?

Eu escrevo um livro infantil com imenso prazer, rindo-me imenso, sem dose nenhuma da angústia que tenho quando escrevo um poema. Escreve-se utilizando uma linguagem simples, mas não infantilizada porque as crianças são inteligentes.

É uma escrita difícil?

Para mim não é nada difícil porque a única componente que a escrita infantil tem presente, em termos de sentimento meu, é o prazer e a alegria. É muito divertido escrever um livro infantil.

Que importância tem?

Acho que é imensa. Por exemplo, eu própria não teria vivido o que vivi sem os livros que li e os livros infantis que recusei. Lembro-me de chorar ao ler «O Soldadinho de Chumbo». A importância está na capacidade de imaginação, de sonho, é toda a vertente lúdica e de seriedade, e é uma maneira da criança ter contacto com o mundo imaginário, que mantém algumas semelhanças com o mundo real.

Como espera que seja encarado um livro seu?

Escrevo um livro para ser lido primeiramente por crianças e a seguir por adultos. Quanto à utilidade, só resta dizer que o útil também pode ser o belo.

O que é mais importante: texto ou imagem?

A palavra é fundamental. O primeiro movimento do livro é feito pelo texto, depois o desenho tem de se adequar ao texto.

Há diferença se o livro for lido por um adulto a uma criança ou se for lido pela própria criança?

Se for uma criança pequenina, ainda que saiba ler, acho que é mais eficaz que seja o adulto a ler porque pode colocar inflexões. Nessa leitura em voz alta, há necessariamente a dimensão do afecto para a criança.

Ainda há espaço para os livros infantis?

Acho que pegar num livro, virar a folha, tocar o livro, cheirar o livro, o próprio som… E se o livro for lido por alguém à criança… A televisão não pode substituir um ser humano. O espaço para o livro infantil vai continuar sempre. As ilustrações mostram só partes do livro, a imaginação é infinitamente mais solicitada do que se tiver 100 imagens na televisão.

Divulgação da literatura infantil, como?

Acho que não é suficientemente divulgada nem valorizada. Muitas vezes, os editores recorrem a traduções estrangeiras péssimas de coisas que não prestam para nada, que não têm grande qualidade. No entanto, o panorama actual está melhor.

É importante um Dia Mundial do Livro Infantil?

A existência deste dia só quer dizer que a literatura infantil está revestido de alguma diferença. Quando isto deixar de acontecer, deixa de fazer sentido e todos os dias serão dia do livro infantil.

“E devagar, com muita paciência (e muita ajuda do sol), a história chegou ao fim”, diz Ana Luísa Amaral em «Gaspar, o Dedo Diferente e outras histórias». Nós concordamos.

Vânia Cardoso