São quatro galardões e uma menção honrosa para quatro mestrandos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Adelino Pereira, Ângelo Mendonça e Judite Ferreira receberão, respectivamente, o primeiro, segundo e terceiro prémios. A menção honrosa caberá a André de Sá. Estes alunos concluíram os seus mestrados na FEUP, entre os anos lectivos de 2001/2002 e 2002/2003 e arrebatam agora todos os Prémios REN da edição 2003.

Os prémios da Rede Eléctrica Nacional (REN) foram criados em 1995, com o objectivo de incentivar a investigação científica na área do transporte de energia. Trata-se de um prémio que é atribuído todos os anos pela Rede Eléctrica Nacional aos melhores trabalhos de licenciatura e mestrado realizados em universidades portuguesas nas áreas de redes e sistemas eléctricos.

“Despacho dos serviços do sistema de mercado competitivo de energia eléctrica”, de Adelino Pereira, “Definição de parâmetros de power systems stabilizers para a melhoria do comportamento dinâmico de redes”, de Ângelo Mendonça, “Tarifação em redes de transmissão de rede eléctrica: comparação de métodos e análise dos efeitos de novas interligações”, de Judite Ferreira e “Simulador dos operadores de mercado e de sistema em mercados de electricidade adoptando um modelo AC”, de André de Sá são os títulos dos trabalhos premiados.

“Não é um trabalho exclusivamente académico”

Um aspecto comum a todos esses trabalhos parece ser a potencial aplicação prática dos estudos desenvolvidos.

Adelino Pereira, que irá receber o primeiro prémio, explicou ao JornalismoPortoNet (JPN) que, na perspectiva de “associar o trabalho a uma situação prática”, o tema da sua tese “está relacionado com o processo de reestruturação que actualmente se verifica no sector eléctrico português, em particular com a criação do Mercado Ibérico de Electricidade (MIBEL).

Ângelo Mendonça, segundo premiado, disse ao JPN que começou por colaborar com o professor Peças Lopes num projecto que tinha por objectivo “efectuar a afinação dos estabilizadores que equipam algumas centrais em Portugal”. Ângelo explicou ainda que a ideia de aprofundar este estudo surgiu porque “foram identificadas algumas limitações das ferramentas disponíveis”. Por isso, melhorar essas ferramentas foi, também, um dos objectivos da dissertação de mestrado de Ângelo Mendonça.

João Peças Lopes, professor na FEUP, foi o orientador de Ângelo Mendonça ao longo de todo o trabalho. O professor explicou ao JPN que Ângelo Mendonça “estudou o problema do amortecimento das oscilações que ocorrem nos sistemas de energia quando surgem perturbações, e estudou também o desenvolvimento de sistemas que contribuem para amortecer rapidamente essas oscilações, que é uma coisa fundamental no funcionamento de um sistema de energia”. O grande objectivo deste estudo foi o de “conseguir que estes sistemas sejam robustos”, referiu Peças Lopes.

Ainda segundo este professor, um outro aspecto muito importante deste trabalho é a sua aplicabilidade prática. “A maior parte destes estudos faz-se naquilo a que nós costumamos chamar toy problems, ou seja, problemas de brincadeira” e, de acordo com Peças Lopes, Ângelo Mendonça “fez uma aplicação ao caso do sistema português”, facto que também terá contribuído para a atribuição do prémio REN, explicou o professor que orientou Ângelo neste estudo. Além disso, Peças Lopes disse também ao JPN que Ângelo Mendonça “não estudou só o sistema eléctrico português, estudou também o sistema ibérico”, uma vez que, como explicou, não é possível estudar o sistema eléctrico português sem estudar o espanhol. Peças Lopes referiu ainda que Ângelo Mendonça analisou “um sistema de uma dimensão enormíssima”, e acrescentou que “não é normal fazer um trabalho desse tipo”.

“O trabalho que o Ângelo Mendonça fez é um trabalho de aplicação directa, não é prática, é directa!”, disse, sem conter o entusiasmo, João Peças Lopes. Este “não é um trabalho exclusivamente académico”, esclareceu o professor. E explicou ainda que o trabalho de Ângelo Mendonça “pode ser utilizado pela Rede Eléctrica Nacional para ajustar os estabilizadores que estão no sistema”, confirmando assim a sua aplicabilidade prática.

“Um incentivo para continuar a minha formação académica”

É uma opinião comum entre os dois primeiros premiados, os únicos, aliás, com quem o JPN conseguiu entrar em contacto. Adelino Pereira e Ângelo Mendonça acreditam que este prémio será mais um incentivo para que continuem a desenvolver os seus estudos.
Actualmente a trabalhar como assistente no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, Adelino Pereira encara este prémio como um incentivo para continuar a sua formação académica.

Também João Peças Lopes, orientador do trabalho de Ângelo Mendonça, reconhece que este prémio “tem imensos benefícios”, e disse ainda ao JPN que o prémio da REN “foi um incentivo muito grande porque, ao terem reconhecido o mérito do trabalho do Ângelo, ele decidiu avançar para o doutoramento”.

Mais do que o “reconhecimento pelo trabalho realizado”, Ângelo Mendonça confessa que este prémio é também “um estímulo à continuação do trabalho de investigação”.

A inserção no mercado de trabalho

Na opinião de Adelino Pereira, estes incentivos são “muito importantes” porque “permitem uma aproximação entre as empresas e a vida académica”. Ângelo Mendonça partilha a mesma opinião, e refere que, para além de serem um “incentivo importante” para os alunos, estes prémios “são uma forma de a indústria reconhecer a qualidade do trabalho realizado nas universidades e a sua aplicação na indústria”.

“O que eu desejava era que, de facto, este tipo de prémios permitisse abrir algumas portas relativamente à possibilidade de inserção no mercado de trabalho”, confessa Adelino Pereira. No entanto, Ângelo Mendonça lembra que “este prémio resulta da avaliação de um trabalho bastante específico”, e explica que “os critérios de selecção do mercado de trabalho serão, certamente, mais abrangentes”. Por isso, Ângelo acredita que “o peso de um prémio seja limitado”.

Embora os premiados já sejam conhecidos, a cerimónia oficial de entrega dos galardões está marcada para 5 de Maio.

Ana Correia Costa