Depois de o robô Opportunity ter encontrado indícios de que um dia terá existido água salgada em Marte, cientistas da NASA e da ESA, agências espaciais americana e europeia, respectivamente, acreditam agora terem detectado metano na atmosfera marciana. A grande novidade é que estas descobertas apontam para a possibilidade de ter existido (ou de ainda existir) vida em Marte.

Esta última descoberta deixou os cientistas bastante entusiasmados, pois caso se verifique a hipótese mais esperada – que o metano seja proveniente da actividade de bactérias no subsolo marciano – pode chegar-se à conclusão de que existe vida em Marte, ainda que microscópica.

Até ao momento, nem a NASA nem a ESA confirmaram oficialmente a descoberta de metano na atmosfera do planeta vermelho. No entanto, apesar de a descoberta não ser conclusiva, Daniel Folha, astrónomo do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), considera que “a probabilidade de o metano estar presente na atmosfera é bastante elevada”, uma vez que “os estudos foram feitos por três equipas independentes”.

Porque é que o metano pode ser um indício de que há vida em Marte?

Em declarações ao JornalismoPortoNet (JPN), Daniel Folha explicou que “se não houver uma fonte de metano no planeta, o metano desaparece completamente da atmosfera”. Como Marte não possui camada de ozono, a radiação solar incide sobre a superfície marciana com uma intensidade muito maior do que aquela que se verifica na Terra. Este factor, por si só, potencia fortemente o desaparecimento do metano, que seria eliminado da atmosfera marciana em apenas algumas centenas de anos. O facto de se ter detectado este composto em Marte indica que existe alguma fonte de metano na superfície do planeta que lança este gás para a atmosfera de forma contínua. E é precisamente a origem dessa fonte que pode indiciar (ou não) a existência de vida em Marte.

De onde vem o metano marciano?

“Daquilo que se conhece, há apenas duas fontes de metano possíveis. Uma são as bactérias, que produzem metano quando decompõem material vivo. A outra hipótese é o metano que resultou do processo de formação dos hidratos de carbono e que estão armazenados no interior da Terra, isto é, no manto”. Daniel Folha explicou ao JPN que o metano terrestre provém essencialmente das bactérias e da actividade vulcânica. “Quando transpomos isto para Marte continuamos com estas duas hipóteses”, refere o astrónomo. Mas, “neste momento não é de todo claro qual será a hipótese responsável pela produção de metano em Marte, e inclusivamente poderão ser as duas”, sublinha Daniel Folha.

No entanto, a grande esperança dos cientistas é de que o metano tenha origem na actividade de bactérias. Daniel Folha referiu que “a actividade vulcânica actual em Marte, se existir, é muito diminuta, o que pode apontar para que a origem do metano seja de facto uma origem biótica, com origem em organismos vivos”.

De que é feita a atmosfera do planeta vermelho?

Daniel Folha explicou ao JPN que “a composição química da atmosfera de Marte é essencialmente constituída por dióxido de carbono. Cerca de 95% da atmosfera de Marte tem dióxido de carbono, e depois há 5% de outros elementos, como eventualmente oxigénio, água, monóxido de carbono e talvez o metano também”. O astrónomo do CAUP esclareceu ainda que a molécula de metano é constituída por “um átomo de carbono e por quatro átomos de hidrogénio”.

“Perceber a distribuição de metano na superfície de Marte”

Na opinião de Daniel Folha, as equipas de investigadores deverão tentar agora perceber melhor de onde vem o metano que é libertado para a atmosfera de Marte. Na opinião deste astrónomo, saber se o metano está mais ou menos concentrado em áreas específicas poderá ajudar a compreender melhor qual a origem deste gás em Marte. “Se for encontrado metano nas zonas em que há vulcões que se julga estarem extintos, poderá ser uma indicação de que a origem do gás é vulcânica”, refere Daniel Folha. “Por outro lado, se for encontrado metano em concentrações idênticas por toda a atmosfera de Marte poderá ser porque existem algumas bactérias produtoras de metano no subsolo marciano por todo o planeta”, explicou o astrónomo ao JPN.

Daniel Folha não deixa de salientar a importância desta descoberta: “é importante porque pode significar actividade vulcânica que não se tem visto. Mas ainda mais interessante é se, de facto, for uma indicação da existência de vida em Marte”.

Foto: NASA

Ana Correia Costa