Na conferência sobre os “30 anos do 25 de Abril”, organizadas pela Câmara Municipal do Porto, Durão Barroso não escapou à questão do Iraque e falou do caso espanhol. “O novo governo espanhol anunciou que iria retirar as tropas do Iraque e imediatamente anunciou que iria aumentar a sua presença no Afeganistão”. Com isto, afirmou Durão Barroso Espanha conseguiu fazer com que o risco seja “muito maior, neste momento em Espanha do que em Portugal”. E rematou “não se compra segurança com posições dúbias”.

Numa primeira reacção, em declarações ao JPN, o deputado socialista Alberto Costa criticou a afirmação de Durão Barroso. O deputado do PS considerou a frase do PM como uma “ingerência muito desagradável que pode comprometer as relações luso-espanholas”. Alberto Costa diz mesmo que este tipo de afirmações é o resultado de “um certo nervosismo, de uma certa desorientação, uma espécie de trabalho de luto ainda não realizado”. António Costa conclui dizendo que a afirmação de Durão Barroso revela uma “falha de sentido de estado que surpreende em alguém muito treinado em relações internacionais”.

O debate do 30 anos do 25 de Abril

Os restantes oradores colocaram o PM essencialmente face a duas questões: a necessidade de se descentralizar em termos administrativos, ciêntificos e culturais e a situação social do país na actualidade. Rui Rio, no discurso de abertura da conferência, tinha sublinhado que um dos objectivos do evento é o de que “a comemorações do 25 de Abril tivessem o seu centro na cidade do Porto”, ao que acrescenta um outro, “maior” o de “se elevar o debate político no Porto”. “Falta-nos participar mais no debate nacional” afirmou o presidente da Câmara do Porto.

Durão Barroso ouviu com atenção as questões e os pedidos que lhe foram dirigidos e respondeu que partilha a opinião de que “Portugal nunca vai ser um país tão desenvolvido quanto pode ser, enquanto estiver tão concentrado em Lisboa”. Como exemplos do esforço de descentralização que tem sido feito pelo governo, o PM referiu a escolha da cidade do Porto para sediar a API (Agência Portuguesa para o Investimento) ou a Entidade Reguladora da Saúde.

O centro do Porto e o Porto como “centro”

O chefe de executivo referiu também que “há massa crítica mais do que suficiente para que o Porto se afirme como centro da ciência”. Artur Santos Silva, presidente do BPI (um dos organizadores do evento) confrontou o primeiro-ministro com a perda de importância do centro da cidade: “é preciso revitalizar o centro da cidade”, referiu. Durão Barroso, sobre esta questão, sublinhou que o problema da reconstrucção é “uma tarefa da autarquia” mas reconhece que “os centros das grandes cidades estão, de facto, com problemas”.

Sobre a descentralização do investimento o PM não deixou de referir que “o metro do Porto é, neste momento, o maior investimento em curso no país” e aproveitou para salientar a importância de se apostar no mercado espanhol: “a nossa situação não é hoje mais grave por termos o mercado espanhol que permitiu o aumento das exportações”.

Mais à esquerda

Da mesa de oradores situada à esquerda do PM vieram as perguntas mais incómodas. Primeiro com a questão do Iraque levantada por Lassalete Miranda e depois com as intervenções de Honório Novo, deputado do PCP e de Alberto Martins do PS, o último a falar. Dos dois deputados surgiram sobretudo números. Aqueles que segundo Honório Novo demonstram que “os objectivos de justiça social, conquistados com o 25 de Abril, foram revertidos nestes últimos dois anos.

O aumento do desemprego, a baixa da procura interna e do PIB e os cortes “cegos”na despeza pública dominaram a intervenção do comunista. Alberto Martins acrescentou que há “nitidamente uma redução do Estado social”.

O chefe do governo sorriu perante “a coincidência” dos discursos de ambos os deputados. E não deixou de lembrar “a incómoda” herança deixada pelo PS e a total imcompatibilidade de modelo com o PCP. “Eu sei o nível de sacrifício pedido aos portugueses, mas honestamente não havia outro caminho” disse Durão Barroso. E como “o Estado não cria riqueza” a aposta do governo é no sector privado. “Estamos ainda na fase de ajustamento” afirmou o PM, “mas há luz ao fim do túnel, uma retoma que se sente, uma recuperação anunciada”.