Um aperto de mãos simbolizou a reconciliação entre José Saramago e o Governo português. O escritor disse ontem, em São Bento, onde almoçou com o primeiro-ministro, Durão Barroso, que as relações com o Executivo estão agora “totalmente normalizadas”. O Prémio Nobel da Literatura de 1998 considera que o período de cisão “ficou entre parêntesis”.

O conflito remonta a 1992 e ficou a dever-se à decisão do sub-secretário de Estado da Cultura de então, Sousa Lara, em não apresentar o «Evangelho segundo Jesus Cristo» a uma candidatura a um prémio literário da União Europeia. Na base da decisão, um alegado ataque do livro aos princípios do património religioso dos portugueses”. Saramago exigiu um pedido de desculpas do governo de Cavaco Silva, uma ideia reafirmada em 2002 e também nas aparições públicas motivadas pelo lançamento do romance «Ensaio sobre a Lucidez». As desculpas chegaram apenas ontem, 12 anos depois.

Sousa Lara relembra o apoio de Durão

Em declarações à agência Lusa, Sousa Lara reafirmou a sua opinião sobre «Evangelho segundo Jesus Cristo», classificando-o como “uma forma catastrófica de ofender Deus”. O ex-secretário de Estado relembrou também que Durão Barroso deu-lhe “cobertura política pública durante a crise”. O primeiro-ministro afirmou ontem que nunca esteve de acordo com a decisão mas que, por “solidariedade governamental” com Sousa Lara, não a criticou em público.

Pacheco Pereira considera a reconciliação “tardia” e pensa que chegou em “má altura”: “Não me parece que num momento em que desenvolve uma teoria sobre o voto em branco, que é anti-democrática, seja a melhor altura para o primeiro-ministro ir almoçar com ele”, disse à TSF o eurodeputado social-democrata. Pacheco Pereira discorda, no entanto, de Sousa Lara que vê nesta reconciliação uma “autoflagelação” do primeiro-ministro.

Pedro Rios