Fazendo agora o balanço de toda esta aventura, valeu a pena? Acha, por exemplo, que os jovens de hoje dão valor à Revolução do 25 de Abril?

Uma coisa é valer a pena, outra coisa é as pessoas valorizarem. Mas aquilo que se recebe dado nunca se valoriza! Nós damos valor àquilo que se conquista. Aquilo que é uma evidência, que é um dado da nossa vida é como o ar que se respira! Ninguém diz: “Podia não haver ar! E eu podia sufocar ou morrer. Não há ar! O que eu quero é melhor ar, porque este não me chega!”
Portanto, é natural. As gerações têm expectativas cada vez mais elevadas e não têm noção exacta de como foi difícil de se chegar onde se chegou e como foi há pouco tempo. Como há mais tempo do que a vida deles, há uma evidência! É como se tivesse sido sempre assim – mas não foi! Dez anos antes de terem nascido, não era assim! Portanto, para explicar isso, não aproveita a ninguém.

Não o preocupa o fenómeno da abstenção?

Não excessivamente. Eu devo dizer-lhe que me preocupa mais um certo desinteresse em relação à política no dia-a-dia e uma crítica mais vezes generalizada aos políticos e ao discurso que o Pacheco Pereira chama de “politiquês”.
A abstenção é um mau sinal, mas comum a outras democracias europeias, desta democracia velha, não da democracia nova. O que significa que as máquinas partidárias têm de se renovar. Têm de se aproximar, têm que se integrar com ONG’s, têm que estar mais sensíveis a movimentos da sociedade civil, têm que ter uma maior renovação interna, têm que estar mais ligados aos jovens, a sectores que não têm representação política activa – as mulheres têm muito pouca e as minorias étnicas não têm nenhuma!
É mais isso, porque, quando há eleições verdadeiramente importantes são disputadas e a abstenção diminui, o que significa que está tudo do lado dos políticos e das propostas que fazem para suscitar a adesão dos portugueses!

Por fim, tendo em conta a sua paixão pelo jornalismo, que tipo de mensagem gostaria de deixar aos cerca de 320 alunos que neste momento se encontram a estudar Jornalismo e Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto?

Se eu quisesse ser muito mau, dizia que eram kamikazes… Porque se lançam num momento de crise económica e financeira. O que é uma grande aventura, quando a comunicação está numa fase que não é famosa, por condicionantes económicas, financeiras e publicitárias.
Não haverá lugar para todos. Vários terão de fazer outras coisas, no domínio das relações públicas, nas agências de publicidade, marketing, assessorias, consultadorias… Ainda aí, depois, haverá uma grande diferença entre os que vão para televisão, rádio ou para jornais, porque as hipóteses não são exactamente as mesmas para todos.
Digamos que se passou do zero para o mil com a multiplicação de cursos, com o que tem de atractivo a comunicação social. Nesse sentido, eu fico às vezes com arrepios de frio a pensar no vosso futuro.
Agora dito isto, há também uma palavra positiva a dar: vai-se assistir nos próximos anos a uma mudança geracional que vai chegar também à comunicação social. Isto é, a minha geração e a geração imediatamente contígua – portanto, os cinquenta e muitos – naturalmente irão desempenhar outras funções, mas não exactamente aquelas que desempenharam em sectores da comunicação social onde há um rejuvenescimento muito intenso.
O que significa que também há aí gente com vinte e poucos anos que terá um papel mais importante do que pôde ter durante vinte anos porque – precisamente – havia jovens que estavam a ocupar esse lugar e isso quer dizer que os melhores vão ter, de facto, hipótese de realização.
O fundamental é, primeiro, a preocupação de “honestidade”, da integridade pessoal e profissional, da independência, num momento em que o perigo já não é tanto a pressão política mas a económica, a pressão do mercado, da conveniência, do economicamente correcto. E ligada a essa grande independência e a essa grande isenção, uma procura de valorização constante. O tempo percorre a um ritmo tal que quem sair e não voltar a valorizar-se corre o risco de ser rapidamente ultrapassado.
As tecnologias da comunicação evoluem tão rapidamente num mundo integrado que quem está cinco, dez anos desatento a essa actualização, às tantas está numa rotina, numa inércia e não está num processo de inovação.
Isso é relativamente simples porque vocês são novos e, portanto, têm uma energia vital que vos permite, pelo menos, ter a predisposição de espírito para encarar essa situação.

Hugo Correia
Fotografias: Márcio Cabral