Estes tempos foram, para si, tempos de paixão?

Foram, porque não há muitas gerações que vivam uma revolução! Na vida de um país, rupturas dessas viveram os revolucionários de 1820, os de 1910, vivemos nós. (…)
Portanto, ter podido partilhar um desses momentos na idade boa, que é com 20 anos – porque houve quem teve de os partilhar com 50, com 60, com 70 e com 80 anos, mas não teve o mesmo sabor – dá uma enorme alegria, mas não se pode partilhar com a mesma vitalidade!
Aqui foi possível partilhar não perdendo um segundo! Um minuto! Claro que eu, de uma forma mais intensa porque estava no jornalismo e, portanto, quem acompanha do lado da comunicação social, acompanha ainda mais intensamente!
Mas todos os portugueses – para se ter a noção exacta –, todos andávamos com um transistor para saber as últimas novidades, porque, de 10 em 10 minutos… então no Verão Quente… Forma-se governo ou não se forma governo? Quem é que forma? Vasco Gonçalves cai ou não cai? Quem é que entra no novo governo? Será o Ministro A ou o Ministro B? Há um golpe de Otelo ou não há? Otelo corta relações com Vasco Gonçalves. Mas corta ou não corta?… E tudo isto acontecia, às vezes, duas ou três vezes no mesmo dia, em dias seguidos, em semanas seguidas. Portanto, viver uma revolução significa viver um processo contínuo de forma muito intensa!
É uma experiência inesquecível, de facto!

Mas, se a torrente de acontecimentos era de tal forma veloz, deve ter sido muito difícil fazer um jornal hebdomadário que fosse “actual”…

Pior do que isso, o Dr. Balsemão teve um dia um gesto de loucura e quis passar a fazer o «Expresso» duas vezes por semana. Vendia-se tanto, era um sucesso tal! Era tal a curiosidade, a fome e a sede de notícias que o Pinto Balsemão disse que tínhamos de ter outra edição à quarta. E então, a minha vida e de todos nós foi um inferno! Fechávamos o jornal ao sábado e havia uma reunião logo a seguir, ao domingo de manhã, para programar o de quarta. Eu ia dando em doido.
Verdadeiramente, não só o «Expresso Extra» ficou muito aquém do «Expresso» – porque não era possível produzir dois produtos igualmente bons -, quando houve a desaceleração da Revolução, o Francisco Balsemão prolongou o «Expresso Extra» ainda no ano de 76 e, salvo erro, em 77.
Foi um prejuízo económico monumental, porque, a partir do fim da Revolução, já não se justificava, tirava muito menos e vendia muito menos. Mas, sobretudo, foi um desafio físico! Quer dizer, se nós não tivéssemos a idade que tínhamos, não teríamos feito o que fizemos!

Hugo Correia

Fotografias: Márcio Cabral