Às 18h15, a juíza Ana Cláudia Nogueira saiu temporariamente do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Gondomar, onde terá ouvido Pinto de Sousa (presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol) durante cerca de três horas. A permanência do advogado Quelhas de Lima nas instalações judiciais indiciava que Pinto de Sousa seria ouvido até ceder o seu lugar a Valentim Loureiro. No entanto, o presidente da Câmara de Gondomar vai ser ouvido apenas sexta-feira de manhã.

O advogado referiu esta manhã aos jornalistas que espera que o interrogatório do major não demore demasiado tempo: “há limites humanos e a senhora juíza também tem que ter capacidade para poder decidir bem”. Lourenço Pinto acrescentou ainda que é “contra um interrogatório que se prolongue pela noite dentro porque pode causar perturbação em quem pergunta e em quem responde”.

Além de Valentim Loureiro e Pinto de Sousa, também José Luís Oliveira (vice-presidente da Câmara e presidente do Gondomar Sport Clube), Luís Nunes da Silva (vogal do Conselho de Arbitragem da FPF), Pedro Sanhudo (árbitro da Associação de Futebol do Porto) e Joaquim Castro Neves (director do departamento de futebol do Gondomar SC) regressaram esta manhã ao TIC de Gondomar. Em causa estão alegados crimes de corrupção, tráfico de influência e falsificação de documentos no futebol.

Os sete detidos para interrogatório chegaram ao TIC às 9h45 e aguardam a chamada da juíza Ana Cláudia Nogueira, o que não deverá acontecer ainda esta noite. Desta forma, prevê-se que esta sexta-feira decorra uma terceira vaga de inquirições aos detidos que ainda não forem ouvidos hoje.

À chegada à comarca de Gondomar, às 9h30, o advogado Lourenço Pinto, manifestou a sua confiança no sistema judicial: “o Ministério Público e a juíza estão a cumprir estritamente a lei”. O jurista espera que “o processo corra bem, que se apure a verdade e se faça justiça”.

Lourenço Pinto afirma desconhecer as razões pelas quais o major deverá ser interrogado: “a comunicação social fala em muitas coisas, mas eu não tenho conhecimento sobre nenhuma delas. Só saberei quais são as suspeições que recaem sobre o meu cliente quando a juíza me comunicar”.

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Ricardo Bexiga, líder da Concelhia do PS de Gondomar e vereador sem pelouro na autarquia, negou a possibilidade de ser chamado pela juíza de instrução criminal caso o assunto esteja relacionado apenas com o futebol: “acredito que seja chamado, caso este processo tenha a ver com a Câmara de Gondomar e não só questões relacionadas com futebol”.

Noves fora

Quarta-feira, foram ouvidos nove suspeitos e, na sua maioria já de madrugada, foram constituídos arguidos, mas saíram em liberdade sob medidas de coacção. Estão obrigados a um “termo de identidade e residência, suspensão da actividade e proibição de contacto com os demais arguidos”.

Saíram ontem seis árbitros da segunda categoria nacional (Jorge Saramago, Licínio Santos, Fernando Valente, Manuel Pinto Mendes, José Manuel Rodrigues e António Eustáquio), bem como três elementos da Federação de Futebol (o vice-presidente, António Silva Henriques, o director do departamento de informática, Paulo Torrão, e o vogal Carlos Manuel Silva).

O vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) foi acusado de corrupção passiva para acto ilícito, falsificação de documentos de forma continuada com dolo eventual, abuso continuado de poder, instigação de abuso de poder, e um outro crime de abuso de poder e corrupção desportiva activa.

Pinto da Costa e Sousa Cintra podem ter sido favorecidos

Valentim Loureiro terá recebido pedidos de favorecimento por parte de Pinto da Costa, Sousa Cintra, o empresário da construção civil Joaquim Camilo da Silva, e o presidente do Paços de Ferreira, Hernâni Silva. Estes dados foram ontem avançados por diversos órgãos de informação, entre os quais a revista «Visão».

Os dirigentes de clubes desportivos terão solicitado a ajuda de Valentim Loureiro em processos do Conselho de Disciplina da Liga em que estavam envolvidos. A suposta ligação a Sousa Cintra poderá ter acontecido na esfera de influência política do major. Além de presidente da Liga e da Câmara de Gondomar, Valentim Loureiro é também o líder de outras instituições, como a Metro do Porto e a Junta Metropolitana do Porto.

O presidente da Liga de Clubes e os restantes seis detidos estão indiciados da prática de crimes de tráfico de influências, cumplicidade em actos de corrupção e falsificação de documentos.

Ministério Público requer prisão preventiva para detidos

A juíza Ana Claúdia Nogueira não deferiu o pedido do procurador do Ministério Público (MP) de Gondomar para aplicação da medida de prisão preventiva aos três primeiros interrogados. De acordo com vários órgãos de informação nacionais, o magistrado do MP Carlos Teixeira entende que, face aos indícios recolhidos, há o perigo de prática de actividade criminosa.

Liliana Filipa Silva e Ana Isabel Pereira (em Gondomar)

com Manuel Jorge Bento e Bruno Amorim