As críticas à selecção portuguesa têm sido uma constante após cada jogo. O de ontem não foge à regra.
Os jogos particulares servem, essencialmente, para fazer experiências. Não obstante esse facto, a verdade é que a selecção de Scolari tinha já obrigação de fazer muito mais. É certo que Portugal esteve bem melhor do que contra a Itália, mas a exibição e o resultado deixam, no entanto, e mais uma vez, muito em que reflectir. O futebol praticado pela selecção nacional foi, a espaços, agradável, mas muitas vezes pouco incisivo e esclarecido.

É verdade que Scolari se pode queixar de ter pouco tempo para trabalhar antes de cada jogo. Há todo um trabalho de concentração e entrosamento que no espaço de preparação para o europeu pode ser realizado. Com mais tempo e com o grupo final de jogadores já definido, podem e devem atingir-se outros níveis. A questão é que esse não é um problema, exclusivamente, de Scolari. Qualquer seleccionador nacional se pode queixar do mesmo. A diferença é que as outras selecções vão ganhando.

A 1ª parte

A primeira parte teve dois períodos distintos. Antes e depois do golo da Suécia. A equipa portuguesa parece carregar um peso grande sobre as costas. Entrou nervosa e permitiu que a Suécia impusesse o futebol que mais lhe convinha. Os nórdicos apostaram no poder do físico e numa pressão muito alta, lançando bolas directas para os jogadores da frente, Ibrahimovic e Allback. Aos 16 minutos, os suecos dispõem de um livre muito longe da baliza. Ricardo faz o inacreditável. Prepara-se para “amarrar” a bola no peito, mas o erro de cálculo é enorme e esta bate-lhe entre o ombro e a cabeça acabando por entrar. Golo de Kallstrom.

Este momento mudou o cariz do jogo. A selecção de Scolari entendeu que só com a bola no chão e impondo velocidade poderia incomodar os suecos. Rui Costa e Simão, uma fase inicial, e principalmente Figo foram os desequilibradores da equipa. Pauleta também esteve bem. O golo havia de surgir e, precisamente, pelo açoreano, em dia de aniversário, num ressalto a um remate de Rui Costa. Estávamos no minuto 32. Portugal já merecia. Por esta altura, já Figo havia permitido a defesa de Isaksson a um penalty sofrido por ele mesmo. Até ao fim da primeira parte, o cariz do jogo não se modificou. Portugal a atacar e a Suécia a defender. Ainda se falharam algumas oportunidades. Umas bolas nem acertavam na baliza, outras o guada-redes sueco defendia. O resultado era injusto.

Uma segunda parte muito má

A segunda parte foi típica de jogo amigável. As muitas substituições que os seleccionadores operaram (esgotaram os bancos) descaracterizaram o jogo. É complicado criar automatismos quando há jogadores a entrar em campo de cinco em cinco minutos. Isso foi evidente. Apenas dois lances a registar: os golos. O primeiro da Suécia, em lance infeliz de Rui Jorge que fez auto-golo, e o restabelecer do empate, já em período de descontos, por Nuno Gomes, na sequência de um pontapé de canto. Um segundo tempo sensaborão e monótono encheu de impaciência os adeptos que se deslocaram ao Municipal Cidade de Coimbra, que não perdoaram à selecção portuguesa mais um mau teste, assobiando e mostrando lenços brancos a Scolari.
Há cerca de ano e meio, em Gotemburgo, Portugal fez um jogo bem melhor e venceu por 3-2. Algo precisa de ser corrigido. Mas que seja a tempo. O Euro2004 é já ali.

O árbitro

O esloveno Darko Ceferin fez um bom jogo. Um lance duvidoso por mão de Linderoth dentro da área terá sido o seu maior erro. Bem no penalty assinalado por derrube a Figo, podia ter mostrado o segundo cartão amarelo a Johansson nesse lance. Mas o jogo era amigável e não havia necessidade.

Portugal

Em mais um jogo que a selecção não brilhou, o destaque vai inteiramente para Luís Figo. Dos seus pés saíram quase todos os lances perigosos de Portugal. Jogou e fez jogar, pôs velocidade, criatividade e dinâmica ao serviço do colectivo. Foi substituído aos 62 minutos por Ronaldo. Pelo que trabalhou, já merecia o descanso. Bom jogo também de Petit e Pauleta. O primeiro, a trabalhar a dobrar devido à inércia de Tiago; o segundo a funcionar como pivot ofensivo. A defesa também esteve em bom plano e não merecia os erros de Rui Jorge e Ricardo. O guarda-redes sportinguista concedeu um frango impensável. Não está em boa forma e ontem notou-se.

Suécia

A Suécia é uma equipa que se preocupa em não deixar jogar. Com esse tipo de jogo, é difícil alguém ter espaço para brilhar. Toda a defesa e meio campo estiveram em bom plano. Destaque apenas para dois jogadores. Ibrahimovic e Kallstrom. O primeiro a confirmar todo o seu talento. O jogador do Ajax assume-se como a figura desta equipa e nota-se a preocupação dos colegas em colocar a bola no jogador mais evoluído da equipa. Com ela nos pés não desilude, sem ela é uma dor de cabeça constante para os adversários. Procura desmarcações, abre espaços, ganha muitas bolas divididas. Kim Kallstrom é um jogador em afirmação. Um “box to box” que começa a despontar. Preencheu o campo todo e destacou-se em missões defensivas, nunca deixando de apoiar convenientemente o ataque, como é prova o golo que apontou.

Reacções

Scolari queixou-se da falta de sorte e da pontaria desacertada dos jogadores portugueses: “não é possível falhar tantos golos na cara do guarda-redes”. Este não é, no entanto, um facto que preocupe “Felipão”. Scolari acredita que, com trabalho, se pode corrigir essa pecha. O técnico brasileiro salientou ainda o esforço e dedicação dos jogadores, adiantado que “há situações em que não dá para meter o pé”, porque nesta fase da época os jogadores estão a disputar jogos importantes.

No habitual “flash-interview” logo após o jogo, Simão fez um apelo aos adeptos portugueses: “é melhor mudar o chip e começar a apoiar. É importante as pessoas terem um bocadinho de calma, porque todos nós estamos a dar o nosso melhor.”

Lars Lagerback, um dos treinadores da selecção sueca, desvalorizou o jogo e o resultado e repetiu um pouco o discurso do dia anterior. Lagerback reafirmou a vontade da Suécia chegar longe neste europeu e mostra-se confiante, pois, “num dia bom, qualquer adversário pode ser humilhado” pela Suécia. O seleccionador considera importante fazer uma boa primeira fase no Europeu. Para tal, estes jogos são importantes, na medida em que “Portugal é muito forte, muito técnico”. “Foi um bom teste, estamos agora melhor preparados para o Euro2004”, disse.

Portugal – Suécia
Jogo particular de preparação para o Euro2004-04-28
Estádio Municipal Cidade de Coimbra ( 14031 espectadores)

Portugal (4x2x3x1): Ricardo(Quim aos 45’), Miguel(Postiga aos 74’), Fernando Couto, Jorge Andrade e Rui Jorge, Petit(Fernando Meira aos 65’), Tiago(Frechaut aos 45’), Figo(Ronaldo aos 62’), Rui Costa(Hugo Viana aos 65’) e Simão(Boa Morte aos 62’), Pauleta(Nuno Gomes aos 62’)
Suécia(4x4x2): Isaksson(Hedman aos 45’), Wahlstedt, Mjallby(Hansson aos 51’), Mellberg(Jakobsson aos 45’) e Lucic(Edman aos 45’), Linderoth(Andersson aos 71’), Kallstrom, Wilhelmsson e Johansson(Svensson aos 61’), Allback(Skoog aos 45’) e Ibrahimovic(Elmander aos 62’)

Golos: 0-1 por Kallstrom (16’), 1-1 por Pauleta (32’), 1-2 por Rui Jorge na própria baliza, 2-2 por Nuno Gomes (92’)

Disciplina : Amarelos a Johansson (15’), Wahlstedt (92’), Kallstrom (92’)

André Morais

Fotos: www.uefa.com