Começou ontem e vai estender-se até Junho. O maior e mais completo ciclo de cinema jamais organizado em Portugal sobre o realizador David Wark Griffith (1875-1948) promete fazer as delícias de muitos cinéfilos e é uma oportunidade imperdível para todos os admiradores da obra de Griffith.

Ao todo, serão cerca de 50 filmes de Griffith aqueles que poderão ser vistos na Cinemateca Portuguesa até ao próximo mês de Junho. Um número muito longe dos 500 filmes que David W. Griffith realizou ao longo da sua carreira. Algumas dessas películas têm uma duração de três minutos, mas outras chegam a durar três horas e meia, como é o caso de «Intolerância» (1916).

As inovações de Griffith

“Eu fi-los ver, não fiz? Eu mudei tudo”. E mudou mesmo. David Griffith introduziu e desenvolveu inovações profundas na forma de fazer cinema. «Birth of a Nation» («Nascimento de uma Nação»), de 1915 é disso um bom exemplo. Este filme revolucionou a linguagem cinematográfica de uma forma irreversível, e é um marco para o cinema tal como o conhecemos hoje.

A montagem paralela, isto é, a alternância de duas ou mais linhas de acção, e o “last minute rescue” (“salvamento de último minuto”) são duas formas de construir o “suspense”, e foram exploradas exaustivamente por David Griffith. O “travelling” é outra das inovações introduzidas pelo realizador.

Maria João Madeira, uma das organizadoras da retrospectiva de David Griffith, explicou ao JornalismoPortoNet (JPN) que “as inovações do grande plano e da montagem alternada, que são tidas como invenções de Griffith”, na realidade “não foram invenções dele, pois isso já tinha sido feito por outros realizadores antes dele”. Maria João Madeira explica que Griffith trabalhou nessas inovações “a um nível de depuração técnica e estética que sistematizou a linguagem cinematográfica”.

E é pelo facto de estas inovações estarem reunidas e serem exploradas em «Nascimento de uma Nação» que este filme foi o escolhido para dar início ao ciclo de cinema sobre David Griffith.

“Birth of a Nation” polémico até hoje

Griffith iniciou-se no cinema em 1908, com os chamados filmes curtos (“one-reel”), que duravam entre 15 e 18 minutos. É considerado por muitos como um visionário do cinema, e ficou conhecido pelas polémicas em que se envolveu, nomeadamente a nível político. «Birth of a Nation» é disso um exemplo. Apesar de ser considerado um dos grandes marcos do cinema moderno, este filme continua a gerar polémica sempre que é exibido. A Guerra Civil Americana é o tema de fundo, e a controvérsia assenta sobretudo no racismo que o realizador deixa transparecer através do filme, e também na apologia que nele é feito do Ku Klux Klan.

Películas foram recuperadas

O MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque) assina a recuperação das películas de David Griffith que a partir de ontem podem ser visionadas na Cinemateca Portuguesa. Para além do restauro dos filmes, o MoMa assume ainda a função de guardião do espólio filmográfico de Griffith.

Esta é a segunda vez que a Cinemateca dedica um ciclo de exibições a David W. Griffith. A primeira exibição deste género aconteceu em 1980. O grande mérito da retrospectiva que ontem começou é que ela reúne alguns dos filmes menos conhecidos de Griffith e também alguns dos mais inacessíveis.

«Intolerância», de 1916, vai ser exibido hoje às 21h30 na Cinemateca Portuguesa.

Ana Correia Costa