“Com as más condições que temos conseguimos fazer autênticas maravilhas”. Foi este o desabafo de um dos mais de 700 professores de todo o país que participam no «1º Encontro de Professores do pré-escolar e primeiro ensino básico» promovido pela Areal Editores e que está a decorrer na Casa Diocesana do Seminário de Vilar, no Porto.

A desmotivação dos professores e a falta de um projecto de continuidade por parte do Estado são apontados como problemas vitais para o tipo de aprendizagem das gerações vindouras. Os docentes defendem a obrigatoriedade do ensino pré-escolar e a sua articulação com a escola primária. “O Ministério da Educação diz que o ensino pré-escolar não é uma actividade pedagógica. Sendo assim, como podemos aproveitar as boas ideias para o sector?”, questionou Júlia Vale, do Sindicato de Professores do Norte.

Uma professora primária do Porto não teve problemas em dizer que “educar é também uma questão política e nós somos aquilo que o Estado quer que sejamos”, dando o exemplo da rigidez dos programas dos manuais escolares escolhidos pelo Governo. As críticas não se ficaram por aí chegou-se mesmo a afirmar que “o nosso ensino é demasiado elitista”, argumentando-se que o 1º ciclo do ensino básico “continua a ser a cauda do cometa”.

Luísa Alonso, investigadora da Universidade do Minho foi ainda mais cáustica para com as políticas de educação do Estado, nos últimos anos: “a Administração Central não quer saber de nada e se ninguém conhece as equipas dos Ministérios é porque são compostas por pessoas sem pensamento constituído”. A investigadora defende “um projecto de continuidade” para o país considerando que isso é um passo fundamental para que a educação “seja um desígnio nacional”.

Apesar de todas as críticas, o Governo não teve oportunidade de responder uma vez que, Mariana Cascais, Secretária de Estado da Educação não apareceu, apesar de estar prevista a sua presença neste encontro.

Uma questão de competências

O objectivo deste encontro de professores fundamenta-se no debate acerca das competências actuais dos docentes e quais os desafios que se aproximam para conseguir optimizar as primeiras etapas do ensino escolar.

Como organizar e planear a formação das crianças na escola e na sociedade? Qual o papel dos professores na aprendizagem social dos alunos? Quais os benefícios de um trabalho conjunto entre os ensinos pré-escolar e primário? É no sentido de encontrar respostas para estas questões que educadores de infância e professores primários se reuniram.

Em debate esteve o facto dos docentes serem cada vez mais gestores curriculares, com responsabilidades de integrar as crianças tomando em linha de conta todas as dimensões da vida. Luísa Alonso, propõe um “Projecto Curricular Integrado”, no qual os educandos “aprendem a conhecer, fazer, ser e a viver”. Para que isto aconteça, a investigadora defende que “os professores devem estar preparados para agir e reagir perante situações mais ou menos complexas”.

Rui Trindade, docente na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto lembra que “acabou o tempo em que a função de professor é só contribuir para a aprendizagem dos alunos”. O professor universitário não tem dúvidas que é preciso “saber quais os desafios e os obstáculos que se colocam a todos os professores” e para isso “é preciso diálogo”.

A falta de diálogo foi também apontada por alguns professores, ao apontarem o ensino superior como um dos principais críticos da falta de preparação dos alunos que chegam à vida académica. “Estamos a falar da educação da infância e às vezes parece que temos um atraso muito grande em relação ao ensino superior”, disse Zaida, educadora de infância em Viana do Castelo.

O «1º Encontro de Professores do pré-escolar e primeiro ensino básico» termina hoje e promete tirar importantes conclusões em prol da construção das gerações vindouras.

Bruno Amorim