Nas celebrações do 1º de Maio, JPN olha para a difícil realidade dos estudantes trabalhadores.

António César Águia é estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e deixou de trabalhar há meio ano por impossibilidade de conciliação das duas tarefas. “Nem sempre a indústria e o comércio estão dispostos a ceder tempo aos seus trabalhadores”, afirma o aluno ao JornalismoPortoNet.

As empresas que acolhem trabalhadores-estudantes obtêm benefícios fiscais, mas são também obrigadas a dar um dia de folga antes dos exames. António César Águia, empregado de balcão de um estabelecimento comercial, confirma que “nem sempre tinha esta possibilidade”, além de que este dever legislado não é válido para a entrega de trabalhos universitários: “não tinha tempo algum para realizar os meus relatórios laboratoriais, por exemplo”, explica o aluno.

Para o trabalhador-estudante, conciliar as duas tarefas “foi completamente impossível”. Entre os colegas com o mesmo estatuto, “alguns conseguem aguentar o ritmo, mas com muito esforço mesmo”, confirma.

Sílvia Cardoso também é estudante na FEUP e trabalha em Santo Tirso. “Simplesmente não há tempo de estudo e ninguém nos facilita a vida”, diz a universitária. “Nem todos os professores são flexíveis e esse é um grave problema que se deve essencialmente à falta de sensibilidade dos docentes”, critica.

O seu horário de trabalho, num estabelecimento farmacêutico, estende-se das nove às 19 horas: “tenho a noite livre, mas mesmo assim é muito difícil dividir-me entre o Porto e Santo Tirso e o cansaço torna o dia-a-dia complicadíssimo”. Sílvia Cardoso refere que, caso o curso de Engenharia Química da FEUP tivesse horário nocturno, “provavelmente tomava essa opção, (de estudar à noite) ainda que agora, já perto do final da licenciatura, não o pudesse fazer”.

A aluna chegou a pensar na mudança para o Instituto Superior de Engenharia do Porto (com horários mais flexíveis para trabalhadores-estudantes), mas deparou-se com uma grande incompatibilidade entre os cursos das duas instituições de ensino superior.

A opção pelo mundo do trabalho sem deixar os estudos surgiu porque “aos 26 anos e já na oitava matrícula, era um peso para os pais”. A necessidade de independência dos progenitores e os elevados encargos monetários (propinas, custo das fotocópias e da investigação) levaram-na a entrar no mercado do trabalho.

Flexibilidade do patronato facilita conciliação

Isabel Amado, estudante de Jornalismo e Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, trabalha na Segurança Social e beneficia das condições da função pública. Apesar de ter que cumprir sete horas diárias de trabalho, tem direito a cinco horas semanais para a frequência de aulas. “Nas empresas privadas, penso que as coisas não são tão fáceis porque os patrões criam algumas barreiras para que os trabalhadores não gozem tantas horas livres para o estudo”, confirma a aluna.

Apesar dos trabalhadores-estudantes não reprovarem por faltas, esta facilidade não permite que os universitários não entreguem trabalhos práticos, obrigatórios para todos os inscritos nas cadeiras. Desta forma, a estudante considera “gratificante mas muito cansativa” a conjugação de tarefas.

Sofia Ribeiro, aluna de Engenharia Química na FEUP, não tem qualquer dificuldade em conciliar as duas actividades. O emprego numa distribuidora de produtos farmacêuticos, que mantêm para “ocupar o tempo livre”, permite um horário completamente flexível: “tenho aulas só de manhã e trabalho à tarde”.

Também Joana Ramos não tem problemas de maior na conciliação de emprego e faculdade: “depende do horário que temos, mas eu e outros colegas também trabalhadoras-estudantes tentamos organizar-nos para termos toda a matéria de todas as cadeiras”.