Cor e alegria são os traços principais do “Cortejo”, pintado pela Queima das Fitas 2004.

É dia da Academia do Porto passear pelas ruas da cidade. Carros alegóricos, caras pintadas, cartolas e bengalas, cantos alusivos às faculdades e muitos sorrisos são o traje de gala. Por entre as três pancadinhas nas cartolas, há um emaranhado de sentimentos diversos no seio de quem se dá a mostrar.

O dia de cortejo, tradicionalmente agendado para a Terça de Queima, é um momento diferente para cada uma das partes que os olhos podem facilmente demarcar. É particularmente no que concerne aos anos que separam finalistas de caloiros que os sentimentos mais divergem.

António Melo, do ICBAS, fala de “saudosismo” para quem, como ele, frequenta o último ano de faculdade. Por sua vez, Pilar Mota, açoriana e finalista de Psicologia, prefere destacar o “contentamento por ir para os Açores com boas recordações”. Cláudia Portugal, também a terminar Psicologia, diz que “há que festejar com alegria, mesmo sabendo que há uma etapa boa que termina”.

cortejo_2004_2.jpgNo pólo oposto, estão aqueles que entraram este ano para a Universidade. Os caloiros ocupam a parte de trás do carro da respectiva faculdade e lá vão pronunciando o que os doutores lhes indicam. Desde o sublinhar, em forma de cântico, que a faculdade que frequentam é a melhor, as brincadeiras académicas roubam-lhes termos menos apropriados. Ainda assim, uma cidade colorida e com imenso público a assistir ao carrossel festivo da Universidade compreende sensatamente que tudo é dito de ânimo leve e com o intuito rebelde de provocar. O Porto também sabe brincar. Mariana Pacheco, caloira de Medicina, realça o facto de “poder viver uma experiência pouco comum com os amigos e de conhecer novas pessoas que partilham esta alegria”. Acrescenta que, de vez em quando, lá escapa uma cervejinha para dar força para o que falta caminhar.

Orgulhosos, os familiares dos estudantes seguem atentamente o percorrer da cor. Nem todos acedem a falar, ansiosos por ver o “seu” estudante, e há aqueles que não descuram a máquina de filmar e a câmara fotográfica para registar o dia. Helena Mendonça lá deixou fugir umas palavras e adjectivou como “bonita” e “única” o que nomeou de “festa”.

Matematicamente distribuídos pelo percurso, os polícias vão assistindo com serenidade ao cortejo. António Bastos, da PSP, larga um sorriso e esclarece que “desde que [os estudantes] levem isto como uma festa e não arranjem problemas, acho bem que se divirtam”.

Até a chegada à Tribuna, porto das ondas de sorrisos da Academia, há tempo para o turbilhão de sensações cansar as pernas de quem conta as histórias de 2004. Este ano, o jogo do FC Porto com o Corunha adiantou o ritmo e a cidade dos estudantes deve descansar a partir das 20h00.