A noite de Segunda-feira é geralmente tida como “fraca”. A noite de ontem parecia, no entanto, fazer questão de desfazer essa ideia. A passagem entre as “barraquinhas” foi tão difícil como nas noites anteriores, tal a quantidade de gente que improvisava passos de dança, mais ou menos etilizados, ou que dava “bengaladas” na cartola de um finalista.

Eram onze horas quando Ace, Presto e Dj Serial iniciaram o espectáculo com uma breve introdução em improviso, a anteceder “Estilvs Clássicvs”, do último disco “Suspeitos do Costume”. A receita dos Mind da Gap é simples e o público já a sabe de cor: beats fortes, linhas de baixo que obrigam aos movimentos de anca e pescoço, impropérios contra o “sistema” e elogios à “cena” hip-hop. É visível a experiência de palco de Ace e Presto, uma máquina vocal bem oleada e com incursões frequentes pelo terreno do improviso.
Quase a fazer 10 anos de carreira, os Mind da Gap revisitaram temas clássicos como “És como un Don”, “Falsos Amigos” e “Dedicatória”. De “Suspeitos do Costume” ouviram-se o funk sintético de “Bazamos ou ficamos”, “Kem é K Roka”, “Invicta” e “Pura Riqueza”, ambas negras, densas e plenas de dramatismo, a face do melhor dos Mind da Gap.

Coube a outro artista da cidade fechar a noite. Na continuação da tournée de apresentação a “Momento”, Pedro Abrunhosa e os Bandemónio apresentaram ao público os temas que este queria ouvir. Pedro Abrunhosa, acompanhado por alguns novos músicos dos Bandemónio, evocou êxitos do seminal “Viagens” (como “Não posso mais” e “Viagens), bem como temas de outros discos. Destaque para Diana Bastos na voz, Alexandre Almeida na guitarra e Edgar Caramelo no saxofone, óptimos executantes. Pedro Abrunhosa dedicou “Talvez F*der” a George W. Bush e ao Governo, e recordou que, anos passados sobre a escrita da canção, ela continua actual.

“É bom estar em casa”, disse Abrunhosa aos milhares de espectadores. “Ficou provado que as canções já não são minhas. São vossas!”, disse Pedro, mesmo no final do concerto, ao público que cantava com ele a letra de “Tudo o que eu te dou”.

Pedro Rios
Fotografias: Joana Beleza