A alegria de Carlinhos Brown e de Gomo puseram um ponto final nas noites da Queima das Fitas.

Carlinhos Brown veio da Baía do Brasil pôr o “Queimódromo” a dançar. Imune ao frio, Carlinhos Brown não parou de incitar à dança, dando ele próprio o exemplo. Brown e a sua banda tocam uma mistura imparável de axé com funk, embolada, bossa nova, ska, música latina. Entre os momentos mais aplaudidos estiveram as interpretações de temas dos Tribalistas, projecto que Carlinhos partilha com Marisa Monte e Arnaldo Antunes. “Carnavália”, “Passe em Casa”, “Velha Infância” e o inevitável “Já sei namorar”, aqui transformado em comboio funk, animaram o público.
No final, Carlinhos desceu para o meio da audiência, saudou seguranças, deu o microfone ao “povo” para falar. A hora adiantada obrigou-o a sair do palco, mas Carlinhos ficaria ali a noite toda se pudesse.

Antes do “furacão do Brasil”, foi um novo senhor pop português que animou as hostes, depois de duas breves actuações de tunas académicas do Porto. Gomo, o alter-ego de Paulo Gouveia, é uma festa. Festa pop, entenda-se. A receita é simples, mas original num país de ensimesmados e tristonhos trovadores como é Portugal: melodias orelhudas, coros imediatos, órgão de feira, baixo e bateria saltitantes, guitarra só para dar um cheirinho de rock. E um frontman que tem em Beck a sua referência. Paulo Gouveia salta, sorri, mostra-se contente com o seu maior público de sempre, como fez questão de referir. Elogios ao Porto, cidade e clube, iam preenchendo os silêncios entre as canções e mantendo o ambiente de festa.
“Proud to be bald”, “Be careful with the train”, “It´s all worth it”, “Feeling Alive” – o momento alto da noite – e “I wonder” foram recebidos como clássicos, coisa rara para um artista com apenas um disco. As canções perdem, porém, a perfeição dos sonhos pop registados em “Best of”, o álbum de Gomo. Um concerto que ficará na memória, tanto de Gomo, como do público.

Um novo boom na música portuguesa

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“Nunca tínhamos tocado numa Queima com tanta gente à nossa frente”, disse Gomo aos jornalistas no final do concerto. O público do Porto é para Paulo Gouveia especial: “Se calhar a maior parte das pessoas não conhecia a minha música e houve uma empatia imediata. Volto a sair aqui do Porto a achar que esta cidade é ainda mais especial do que o que eu já achava”.

Gomo respondeu a jornalistas espanhóis presentes na conferência de imprensa, adiantando que pretende explorar o mercado de “nuestros hermanos”. “Acredito que um dia atingir um patamar, como os Madredeus têm lá fora, por exemplo, deve ser uma coisa fantástica. Ter este público mas noutro país a cantar as mesmas músicas …”, afirmou.

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“Estamos num novo boom [na música portuguesa]. Tivemos um boom há vinte anos atrás. Eu acho que o novo boom chegou, não através de editoras porque a maior parte das bandas novas estão a trabalhar por conta própria”. E cita os Plaza, os Mesa, o próprio Gomo, os Loto como parte desse “boom”. Uma fornada de bandas com canções alegres que, para Gomo, revelam a “necessidade desta geração se expressar doutra forma, e fazer esquecer tudo de mau que se está a passar”.