Vários pedais ligados entre si formam a “frente de combate” no palco do Blá Blá. Quatro texanos conhecidos por Explosions in the Sky (EITS) não tiram os olhos dos seus instrumentos, não olham o público de frente, fitam o chão, o tecto, as paredes, balançam os corpos ou sentam-se no chão. Entrega total, casulo impenetrável.

A segunda vinda a Portugal da banda americana, conotada com as correntes pós-rock de uns Mogwai ou Godspeed You! Black Emperor, foi, outra vez, uma descarga de tensão, contida em rendilhados de guitarra ou despejada em desbragadas torrentes de distorção. É certo que a fórmula é partilhada por outras bandas (os Mogwai, os Mono, os Aurore Rien), mas as peças dos EITS seguem por contornos que leva o ouvinte a questionar se está perante rock ou outra coisa. E o epíteto “pós” anexo à palavra “rock” volta a fazer sentido: os instrumentos, o headbanging, a violência são rock; a gestão das emoções, a fragilidade, o choro e a delicadeza das canções remetem-nos para territórios mais próximos da música dita erudita. Uma orquestra de guitarras, eis os Explosions in the Sky.

“Your Hand in Mine”, tema que fecha «The Earth is Not a Cold Dead Place, o último disco da banda, abriu o concerto, com os seus jogos de guitarras e bateria em rufos. Seguiram-se “Greet Death”, do álbum «Those Who Tell the Truth Shall Die, Those Who Tell the Truth Shall Live Forever», a forçar o descontrolo na audiência – forma de exteriorizar esta música que fala ao coração. Do mesmo disco ouviram-se também “Yasmin the Light” e “With Tired Eyes, Tired Minds, Tired Souls, We Slept”, canção de 12 minutos, rufos constantes, escalada de tensão até à inevitável explosão e guitarras ruidosas à Sonic Youth. Canções pouco diferentes entre si, previsíveis, mas de uma beleza rara.

“The Only Moment We Were Alone” fechou o concerto com a sua tristeza operática. As poucas pessoas que se dirigiram ao Blá Blá sabiam que há algo de especial com estes texanos e com a música que fazem. O silêncio – essa coisa tão pouco rock – entre a plateia revelou uma centena de pessoas fechadas em casulos, entregues a si e à música para a alma dos EITS.

Pedro Rios
Fotos: Ana Marques