Desemprego é a palavra que vem atemorizando uma grande parte da população portuguesa nos últimos tempos. A população do Norte do país que o diga, pois os números do desemprego nesta região são claramente superiores à media nacional. Só no último ano, a taxa de desemprego aumentou 21%, números bem acima dos 13,9% verificados no resto do país.

Para Clementina Santos, economista e docente da Faculdade de Economia do Porto, esta situação não é uma surpresa. “A razão que está na base do aumento do desemprego no Norte tem a ver com a grande concentração de empresas nesta região, sobretudo na área da indústria têxtil e do calçado”, frisou.

A docente refere a “baixa qualificação da mão-de-obra” como um dos principais problemas do sector têxtil e considera o desemprego uma consequência da descida do Produto Interno Bruto (PIB). “Quando o PIB desce, como é o caso, são os sectores mais débeis, como o têxtil e o do calçado, que são atingidos”, disse.

Como estas indústrias são maioritariamente compostas por mão-de-obra feminina, não é de estranhar que as mulheres sejam mais afectadas pelo desemprego.

São muitos os jovens que ainda não conseguiram entrar no mercado de trabalho. Aliás, a população na faixa etária dos 15 aos 24 anos é mesmo a mais atingida pelo drama da falta de emprego. Clementina Santos reconhece a “dificuldade cada vez maior dos jovens entrarem no mercado de trabalho”, mas não deixa de apontar uma “elevada taxa de abandono escolar” e uma “baixa qualificação dos jovens”, que também contribuem para as dificuldades em encontrar trabalho. Para a economista, a situação está difícil para todos, e se “até os licenciados não conseguem emprego”…

Futuro nada animador

Depois da tempestade vem a bonança. Tal como diz o ditado, bem que as coisas poderiam melhorar depois do aumento do desemprego, mas não neste caso. Como explica Clementina Santos, “o desemprego aumenta mesmo com retoma económica”, e olhando para as previsões de um aumento do PIB de apenas 0,8%, “a taxa de emprego não terá um aumento significativo”.

A docente prevê que as notícias para o próximo ano não sejam nada boas. “O emprego vai continuar a diminuir, porque para haver emprego tem que haver aumento do PIB e isso não deverá acontecer”, afirmou.

Perante tanta crise, será possível inverter esta situação? Clementina Santos partilha da opinião de que o modelo de crescimento “incidido no consumo interno” já teve melhores dias. “É um modelo esgotado. Os consumidores estão muito endividados e isso provoca uma diminuição do consumo que não potencia o crescimento”. Também a diminuição da despesa pública não estimula uma economia carente de investimento.

A economista entende que chegou a hora de apostar nas exportações, mas para isso é preciso que a economia seja competitiva: “A nossa produtividade tem de ser semelhante à dos países com quem mantemos relações comerciais, e isso só se consegue com uma mão-de-obra mais qualificada, na formação profissional, com a aposta na investigação e novas tecnologias e, por outro lado, incentivar os empresários a investir”.

A docente defende ainda uma “diminuição dos impostos” sobre a indústria, de forma a se conseguir uma aposta real nas exportações.

Clementina Santos acha que estas medidas só serão possíveis se houver “uma estratégia de longo prazo” por parte do poder político e não se “pensar apenas em manter os 3% do défice”. A economista tem algumas dúvidas que o investimento esteja também no pensamento do actual Governo.

Dada a grande dependência do nosso país face à conjuntura internacional, a economista considera que é urgente tomar medidas que tornem o país mais competitivo. “O nosso país está lentamente a ficar sem indústria e somos cada vez mais um país de serviços. É preciso uma estratégia de longo prazo que não se limite a ser uma estratégia eleitoral”, afirmou.

Bruno Amorim e Carla Gonçalves