Uma das muitas Sociedades Protectoras dos Animais, a SPA-Porto foi criada há 126 anos, dedica-se à protecção dos animais domésticos e neste momento acolhe 1.067 cães e 140 gatos. O anúncio da construção de raiz de novas instalações veio trazer algum alento às 36 pessoas que nela trabalham.

Pedro Faria, relações públicas da Sociedade Protectora dos Animais-Porto, afirma que “não é tão importante a localização das novas instalações, mas sim que a associação saia das actuais o quanto antes”.
A SPA teve de ceder a maior parte dos terrenos que ocupava para a construção do Estádio do Dragão, no âmbito da alteração do Plano de Pormenor das Antas (PPA), pelo que a Câmara Municipal do Porto se compremeteu a arranjar uma localização para as novas instalações da Sociedade e a construir 300 canis, uma clínica veterinária e um hotel.

Neste momento, a SPA-Porto apenas alberga animais feridos e atropelados, sendo a recolha de animais vadios impossível, devido à superlotação das instalações.
Uma outra dificuldade da associação é a situação económica desfavorável. Pedro Faria, explica que sustentar 1.067 cães e 140 gatos é muito complicado: “basta uma pessoa ter um ou dois cães para ver quanto é que gasta em alimentação, multiplicando por 1.067 dá uma quantia exorbitante”. Custos que não são comparticipados por ajudas camarárias nem estatais, sobrevivendo apenas com os apoios dos associados e com o rendimento da clínica veterinária da instituição.

Pedro Faria sublinha que esta associação não pretende ser um depósito de animais, mas um intermediário das pessoas que querem animais de estimação. Considera ainda que o problema do abandono dos animais reside numa mentalidade inconsciente dos portugueses: “Quem quer adoptar um animal de estimação tem de entender que é para uma vida. Se for um cão, tem de ter em conta que dura em média 10 a 15 anos, que durante esse período tem de cuidar dele e não é porque está doente ou velho, que o vai abandonar ou mandar para um depósito”, explica.

Pedro Faria diz não ter dúvidas de que os direitos dos animais são violados todos os dias e entende que, por mais leis que se façam, se não houver fiscalização, vão continuar a ser violados.

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Nesse sentido, os objectivos da instituição passam pela defesa dos animais e por lhes atribuir direitos legais: denuncia às entidades legais (instituições de protecção dos animais e polícia) casos de maus-tratos aos animais domésticos e procura sensibilizar a população para o não abandono de animais, através de projectos educativos e interacção escolar.
Actua também a nível da prevenção, fazendo controle de natalidade através do método da esterilização e identificação pessoal do animal.

A SPA-Porto não faz um balanço positivo destes 126 anos de existência. A missão desta associação apenas será cumprida quando tiver poucos animais sobre a sua alçada. “Gostaríamos de dizer que temos 50 animais, aí poderíamos afirmar que somos uma Sociedade Protectora dos Animais em absoluto”, refere, acrescentando que seria também um sinal de que a mentalidade dos portugueses e a política do governo tinha mudado. Pedro Faria reconhece que esta é uma tarefa difícil, mas acredita que, se houver leis que protejam os animais, esse objectivo será atingido a curto prazo.

Para a associação, esta “missão é dificultada pela pouca eficácia da legislação nesta matéria”. A SPA-Porto critica o facto de a colocação de um “chip” de identificação nos animais ser obrigatória apenas a partir de 2008, e considera que esta não se deve restringir aos animais de caça e aos considerados agressivos, mas abranger todos os animais.

Esta seria uma forma, no entender da Sociedade Protectora dos Animais, de obrigar as pessoas a pensarem duas vezes antes de adquirirem um animal de estimação e de saber exactamente quem abandonou o animal, para depois aplicar a respectiva coima.

Um método de consciencialização para que as pessoas entendam que “um animal não é uma coisa que se pega e deita fora quando se quer e apetece”, diz Pedro Faria. “O que nós pretendemos é que as pessoas comecem a sentir o animal não como um objecto mas como um ser vivo”, salienta.

Carla Sousa

Foto: lasacacias