Chama-se Lynndie England, tem 21 anos e é soldado de 1ª classe no exército norte-americano. A sua imagem percorreu o mundo no seguimento da divulgação das fotografias de abuso de prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque. Surge a apontar para os genitais dos prisioneiros iraquianos em diversas situações e há um caso em que arrasta um iraquiano pelo pescoço através de uma corda.

Em entrevista dada ontem à CBS, England diz que cumpriu ordens superiores. Acrescenta que chegou a posar para as fotos. “Pessoas de patente superior disseram-me “fica quieta, agarra esta corda e olha para a máquina” e depois tiraram a foto para a PsyOps [operações psicológicas].(…) Nós fazíamos o que nos mandavam e eles [os superiores] tinham o que queriam.”

O objectivo era exercer pressão psicológica sobre os prisioneiros. “Eles olhavam para as fotos e diziam que era uma boa táctica, que estava a funcionar e pediam para continuarmos, porque estava a dar resultados.” Esclareceu que há abusos piores do que aqueles já divulgados, mas recusou-se a falar do teor desses actos.

A soldado de 21 anos vai a tribunal de instrução militar, que vai decidir se vai ser levada a tribunal de guerra. É o sétimo militar nesta situação. England é acusada de quatro crimes: associação com outras pessoas com vista a maltratar prisioneiros iraquianos, agressões a prisioneiros iraquianos em múltiplas ocasiões, actos prejudiciais à boa ordem e à disciplina, desacreditação do exército e actos indecentes. A este propósito, afirma que “nós, os que fomos indiciados, não sentimos que fizemos coisas que não devíamos, na medida que só cumprimos ordens.”

Durante a entrevista, disse que estava ansiosa por ter o seu bebé e que esperava conseguir deixar para trás todo este escândalo.

Tortura pior que o 11 de Setembro para os Estados Unidos

O ministro dos negócios estrangeiros do Vaticano, o arcebispo Giovanni Lajolo, disse ao jornal “La Repubblica” que as fotos divulgadas vão incendiar o ódio árabe pelo ocidente. Considera que, por extensão, também o cristianismo vai sofrer.

“Para os Estados Unidos, este é um golpe pior que o 11 de Setembro e a diferença é que foi infligida pelos próprios americanos”, continua Lajolo. O arcebispo conclui sublinhando que esta controvérsia torna mais importante a intervenção das Nações Unidas no Iraque e a necessidade de Washington passar o poder para o povo iraquiano. George Bush deve-se encontrar com o Papa João Paulo II no próximo dia 4 de Junho.