Santana Lopes vai, esta noite, ao Convento do Beato falar da sua «paixão por Lisboa». Este pode ser um sinal da inflexão de Santana face à sua vontade declarada de ser candidato a Presidente da República. Desta forma, o autarca é um problema a menos para Durão Barroso, para quem “é fundamental reforçar o PSD em Lisboa”, disse ao DN.

Esta falta de “entusiasmo” por parte de Santana Lopes quanto à Presidência da República deve-se, no entender do sub-editor de política do jornal «Público», Rui Baptista, a vários factores, entre eles “a falta de entusiasmo que a sua candidatura provoca em larguíssimos sectores do PSD. O professor Marcelo Rebelo de Sousa disse, por diversas vezes, que não o queria como candidato e Pacheco Pereira nunca mostrou grande entusiasmo”.

Santana Lopes vive dias difíceis na Câmara Municipal de Lisboa devido à polémica que envolve o túnel do Marquês. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa mandou suspender a construção do túnel até que haja uma avaliação do impacte da obra.
Se juntarmos a isto, a “história dos carros de luxo” que Santana comprou “desde que chegou à Câmara, em termos de opinião política não tem caído muito bem”, havendo mesmo “quem dentro do partido receie que a Câmara possa ser perdida nas próximas eleições autárquicas”, afirma o editor.

Apesar disto, “Santana Lopes ainda não perdeu a ideia de ser candidato a Presidente da República”. Segundo Rui Baptista, o autarca está numa “inflexão estratégica” que consiste em “mostrar que está mais interessado na Câmara de Lisboa, de tentar gerir a falta de entusiasmo evidente de Durão Barroso e está à espera que Cavaco Silva desfaça ou não o tabu”.

Cavaco Silva “disposto a avançar”

Cavaco Silva ainda não disse se é ou não candidato a Belém, mas muitos acreditam que sim. A apresentação dos dois volumes da sua autobiografia e a entrevista a Maria João Avillez são, na opinião do editor de política, “sinais de quem está disposto a avançar”.

Mas vários são os problemas que envolvem uma eventual candidatura do ex-primeiro-ministro. Um deles, é a “imagem porque toda a gente se lembra dos anos terríveis que foi o cavaquismo no final”, diz o articulista, acrescentando que Cavaco Silva “tem um perfil marcadamente executivo e a Presidência da República não é propriamente um corpo executivo, com a limitação de poderes constitucionais”.

Caso o ex-primeiro-ministro não se candidate e Santana Lopes não reúna o consenso, o mais provável é que à “última hora surjam outros candidatos, nomeadamente, o professor Marcelo Rebelo de Sousa que tem deixado cair aqui e acolá que se for preciso avançará para evitar males maiores”, afirma Rui Baptista.

Carrilho versus Santana

Manuel Maria Carrilho já manifestou a sua disponibilidade para concorrer à Câmara Municipal de Lisboa pelo Partido Socialista. O frente-a-frente entre Santana e Carrilho vai ser um combate “aliciante”, porque “ambos os candidatos querem ter palco político”, diz Rui Baptista. Por um lado, Manuel Maria Carrilho “quer ser presidente da Câmara de Lisboa, quer conquistar o seu espaço”. Por outro, Santana Lopes “quer ser Presidente da República, mas se for necessário conforma-se com a Câmara de Lisboa”, mas “isto pode ser um trunfo para Carrilho”.

Caso Santana Lopes se recandidate, as eleições autárquicas em Lisboa não vão ser “favas contadas”, diz Rui Baptista, na conclusão da sua análise.

Vânia Cardoso