Os últimos números divulgados das eleições indianas conferem 217 assentos parlamentares ao Partido Nacionalista do Congresso (PNC) e aliados, contra os 185 do Bahratiya Janata Party (BJP) e aliados. O BJP é o partido do primeiro-ministro, Atal Vajpayee, enquanto o PC é liderado por Sonia Gandhi, viúva de Rajiv Gandhi. Até ao momento, foram apurados 538 do total de 543 deputados. Face a estes dados, Vajpayee apresentou a demissão.

Nos primeiros comentários aos jornalistas, a líder do partido vitorioso fez questão de afirmar que “o PNC vai tomar as coisas em mão para assegurar que o país tenha um governo forte, estável e laico o mais rapidamente possível”. Acrescentou que são os membros parlamentares do partido que vão decidir quem vai liderar o novo governo. Muitos acreditam que Sonia Gandhi vai ser a escolhida, embora alguns hindus nacionalistas e aliados do PNC considerem ser inaceitável a sua nomeação. A ascendência italiana de Gandhi leva a que as vozes discordantes lhe chamem “estrangeira”. Este pode ser o quarto nome da dinastia Nehru-Gandhi a chegar ao poder.

Os responsáveis do partido vencedor começaram ontem a preparar o novo executivo e a ponderar com que forças partidárias devem constituir alianças. Os 217 assentos não garantem a maioria e já não é possível chegar aos necessários 272. Fala-se no encontro de interesses com a esquerda, liderada pelas facções comunistas, que atingiram os melhores resultados de sempre.

As cotações na bolsa têm caído e a rupia atingiu o valor mais baixo dos últimos 3 meses face ao dólar. Os investidores demonstram preocupação pela eventual aliança entre o PNC e a esquerda. Temem que a nova situação trave a reforma económica e o programa de privatização.

Foi o governo do Congresso que traçou as primeiras linhas das reformas económicas levadas à prática por Vajpayee. Falta saber qual a estratégia do novo executivo. A este propósito, o analista Harish Khare disse, em declarações à BBC, que “a questão não é saber se as reformas económicas vão continuar ou não. A questão é saber como encontrar meios para tornar as reformas significativas para os pobres”.

Surpresa

india_eleicoes.jpg A manchete do “Hindustan Times” de hoje simboliza a surpresa com que os resultados foram recebidos. As garrafais “Choque e fantástico” lançam a história de um vencedor que as projecções não indicavam. Em 2003, o PNC obteve resultados medíocres nas votações regionais, após a derrota evidente nas eleições de 1999. Pran Chopra, analista político, comentou à AFP os resultados. “A política económica do BJP, que conseguiu cumprir várias promessas, alienou um vasto segmento do eleitorado, demasiado pobre e marginalizado para beneficiar das reformas. Isso custou-lhe o apoio de uma parte importante da população.”

Nos últimos meses, os media falaram de um espírito feel good, no seguimento do crescimento económico de 8% e da expansão do sector tecnológico. Vajpayee suportou-se nestes indicadores e partiu para campanha com o lema “A Índia Brilha”. Por sua vez, Sonia Gandhi percorreu o país de norte a sul e conheceu a face menos brilhante. Cerca de 60% da população habita as zonas rurais e uma grande parte sem electricidade e água potável. Um quarto dos mil milhões de habitantes vive na pobreza absoluta e 300 milhões sobrevivem com menos de 1 euro por dia.

Germano Oliveira

Fotos: AP e BBC