Manuel Pinto, investigador do departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, aborda o caso Mirror sobre 3 pontos de vista.

. Que implicações pode ter para o jornalismo os acontecimentos à volta das fotos divulgadas pelo Daily Mirror?

“O caso é obviamente lamentável. Para já, não vi sinais consistentes de que tenha havido intenção abusiva da parte da redacção do Mirror. Tendo a pensar que o jornal foi enganado por fontes que lhe estenderam uma casca de banana. O que evidencia ainda mais a necessidade de um cuidado acrescido dos jornalistas na relação com as fontes, especialmente em matérias sensíveis. É cedo para ver as incidências deste caso. Mas é importante não esquecer de que tipo de imprensa ele surge.”

. Que efeito é que uma situação deste género pode ter junto do mundo árabe, mesmo apesar do desmentido?

“Junto do mundo árabe é provável que tenha mais efeito a onda de imagens dos prisioneiros iraquianos reveladas pelos media dos EUA e que deram, entretanto, a volta ao mundo.”

. Apesar das fotos não corresponderem a abusos de prisioneiros no Iraque, foram detidos quatro soldados britânicos para interrogatório, sábado passado. Podemos considerar esta ocorrência como um efeito positivo?

“De uma falcatrua e de uma mentira não podem sair efeitos positivos. Creio que o problema tem de ser avaliado numa dimensão mais vasta: o efeito das imagens, a partir do momento em que os media mainstream (não todos) decidiram não ficar mudos e quedos. E a facilidade com que as câmaras digitais e os telemóveis com máquina fotográfica produzem, armazenam e fazem circular as imagens. O caso do Mirror, neste contexto, constitui pouco mais do que um tiro no pé.”

Germano Oliveira