O vereador do pelouro do Ambiente da Câmara Municipal do Porto, Rui Sá, desafiou o presidente Rui Rio a pedir à administração central que assuma “a herança” da Sociedade Porto 2001. O eleito pela CDU no executivo portuense afirmou ontem, à margem de uma reunião privada, que o jardim da Cordoaria poderá entrar de novo em obras, a curto prazo, avança o «Diário de Notícias».

Em causa está o mau estado daquele espaço renovado. Pisos esventrados por tubos e ferros de incompreensível utilidade juntam-se à elevada lista de lâmpadas fundidas. O sistema de iluminação indirecta é demasiado dispendioso para a autarquia, pelo que Rui Sá pretende modificá-lo.

cordoaria2.jpg
O estado actual do jardim da Cordoaria “não tem cabimento” para o presidente da Junta de Freguesia da Vitória: “ontem já era tarde para uma intervenção de fundo. Na minha opinião, existem cemitérios mais bonitos que o jardim da maneira como o deixaram ficar”.

António Oliveira não defende que a Cordoaria estava melhor antes das obras da Porto 2001, mas considera que “a mudança que fizeram foi radical e para pior”. O autarca acrescenta que “já é tempo dos responsáveis da Câmara começarem a pensar em criar ali um espaço, como esteve previsto em tempos, para que as crianças da freguesia possam dar uns pontapés na bola, onde se possam entreter, que não existe na freguesia da Vitória”.

“Uma miséria”

Manuel Álvaro, frequentador do jardim, refere que “a iluminação é fundamental para a segurança nocturna”. Fernando Miranda prefere o actual cenário ao que existia antes de 2001: “agora está mais bonito mas, quando começa a escurecer, torna-se muito perigoso passar aqui, coisa que antigamente se fazia à vontade sem qualquer problema”.

cordoaria4.jpg
Avelino Ribeiro também critica o actual sistema de iluminação: “há pouca luminosidade à noite e até ratos e cobras passam e se abrigam nos espaços que foram criados no piso para guardar as lâmpadas”. O visitante do jardim da Cordoaria considera que aquele local está actualmente “uma miséria” e pede uma solução: “é preciso mudar, mas como deve ser e não para continuar tudo na mesma”.

“É um pesadelo”

Os comerciantes também concordam com a mudança do sistema de iluminação: “pelos candeeiros que aí estão e considerando que a maior parte deles até nem funciona, deve ser de não passar lá por dentro, à noite”, comenta Liliana Moreira. António Freitas refere o vandalismo de que alguns focos de luz são alvo na Cordoaria.

Há, assim, uma grande lista de melhoramentos necessários, apontados pelos vendedores. “Eu tenho um bebé e não posso andar com ela porque é só lombas e ficamos com os sapatos que é um horror. Assentos só há no lado do Tribunal, e a maior parte está ocupada por drogados e prostitutas. Quer-se sentar com o carrinho de bebé e não se tem sítio. Por outro lado, o jardim também não tem uma flor, não tem nada que se apresente. É um pesadelo”, afirma Liliana Moreira.

cordoaria3.jpg
Comerciantes e frequentadores apontam ainda outros problemas da Cordoaria, como a colocação de pedras graníticas como bancos de jardim, de colectores de lixo para reciclagem à porta de estabelecimentos comerciais ou a inexistência de sanitários públicos. No entanto, está já a ser colocada uma instalação sanitária no largo do café «Piolho».

Rui Sá referiu também outros locais que sofreram a intervenção da Sociedade Porto 2001, mas que já estão com condições reduzidas: “se, na Rua Sá da Bandeira, os dois colectores antigos não estivessem operacionais, teríamos de levantar todo o piso, porque o que foi instalado pela 2001 não funciona”. A Câmara Municipal tem a alçada das obras da sociedade que coordenou a cidade do Porto como capital europeia da cultura, mas só o Governo terá capacidade para resolver todos os problemas.

Manuel Jorge Bento