Os pescadores vivem tempos de aflição e temem medidas ainda mais restrictivas da comunidade europeia.

Os pescadores do norte do país estão parados há 15 dias mas oficialmente só paralizaram esta semana. António Macedo, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte, explicou ao JornalismoPortoNet (JPN) que a paralisação acontece porque “neste momento, a sardinha que os pescadores estão a pescar é muito pequena e não pode ser vendida em lota”. O dirigente avançou que os pescadores “vão estar mais algum tempo parados para permitir que a sardinha cresça”. A paralisação está a ser cumprida por pescadores e organizações de produtores desde a Figueira da Foz até Caminha.

O sector das pescas em Portugal vem atravessando um problema de escassez de recursos e enfrenta a ameaça da Comunidade Europeia de tomar medidas mais drásticas quanto à redução do pescado, das capturas e das quotas bem como o abate da frota.

Os pescadores são também pressionados pelos grupos ambientalistas que querem ver os recursos maritimos preservados. Queixam-se da interferência de aspectos climatéricos e da poluição na redução dos recursos e de serem sempre apontados como únicos culpados.

António Macedo reconhece que existe um problema de recursos mas entende que o problema é também não haver “ninguém que tome medidas em relação à manutenção ou recuperação desses recursos” E acrescenta: “são os próprios pescadores que no dia-a-dia tomam essas medidas. Todos os anos param em Fevereiro e Março para defesa da sardinha”. Ao que o JPN apurou, estes pescadores não tem qualquer apoio durante esta paralisação e estão dois meses sem receber qualquer dinheiro. “Neste momento estão numa situação aflitiva”, diz o dirigente sindical.

Pescadores exigem o apoio do governo

Na zona do Porto existem embarcações que não ganharam qualquer dinheiro em Abril. A situação repete-se este mês. António Macedo, do Sindicato de Pescadores no Norte, é peremptório: “exigimos que o governo tome medidas que estão previstas no quadro dos apoios comunitários ou que, em última instância, active o fundo de compensação salarial para a pesca”.

António Macedo não quer sequer pensar que o governo possa ignorar a situação de aflição que os pescadores atravessam e diz que o governo já deu um sinal de cooperação. “Fizemos uma missiva na segunda-feira passada junto do governo. Há uma resposta por parte do secretário de estado. Disseram-nos que estavam a apurar no plano técnico a situação, que o estudo foi encomendado ao ITIMAR, Instituto de Investigação das Pescas e do Mar, e que até ao fim desta semana tomariam medidas”.

Empresas aproveitam a situação para explorar os pescadores

António Macedo contou ao JPN que “esta situação está a ser aproveitada por alguns armadores da pesca industrial mais uma vez como uma desculpa para não haver negociação de contratos”. Os pescadores classificam o comportamento destas empresas como inadmissível e dizem que, haja ou não crise, esta é sempre a desculpa.

“As empresas insistem em espezinhar os direitos dos trabalhadores: despedindo ´por dá cá aquela palha`, não pagando o estabelecido no contrato, arranjado artimanhas para fugir aos compromissos”. António Macedo deu o exemplo de uma empresa de Aveiro que mudou de nome por forma a evitar a renegociação dos contratos.

A acrescer às demais dificuldades, os pescadores queixam-se do preço do gasóleo com que abastecem os barcos. Os pescadores pagam o gasóleo ao preço a que o petroleo está cotado internacionalmente. “O ano passado os pescadores estavam a pagar o litro de gasóleo a 32 centimos. Este ano já vai nos 40 cêntimos. Em França, ainda a semana passada, estava a 27 cêntimos”, António Macedo não percebe a disparidade de preços de país para país.