Albino Almeida, presidente da Confederação das Associações de Pais (CONFAP), não se surpreende com os resultados divulgados pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) sobre o consumo de drogas nas escolas secundárias.

“O ano passado a CONFAP, com o IDT, visitou algumas escolas e tivemos a percepção de que algumas coisas estão manifestamente mal”, diz. Para o líder da CONFAP, o problema começa “na forma como tratamos os jovens”. “A angústia de não entrar na faculdade por meia dúzia de milésimas” favorece “momentos de alienação e catarse” através do consumo de drogas.

Os hábitos nocturnos dos jovens são outro dos problemas. “Os nossos filhos estão até às 11 horas em casa e depois vão para a discoteca até às 6 da manhã”, diz Albino Almeida, apelidando esta situação de “inenarrável”. E propõe: “Não é possível pôr um polícia atrás de cada jovem, mas é possível pôr um polícia dentro de cada bar e discoteca”.

O “falhanço” das campanhas anti-droga

“No limite, somos todos cúmplices”, constata Albino Almeida. “Há um certo baixar de braços” face ao problema, “há acções nas escolas, mas depois a sociedade adormece”. A CONFAP não hesita em considerar o resultado das actuais campanhas anti-droga (nas quais a própria Confederação está envolvida) como um falhanço. “Se verificamos que o consumo de drogas aumenta, significa que alguma coisa não está a funcionar. É preciso avaliar e perceber se as campanhas estão a chegar aos jovens”, diz.

“A sensação que tenho é que todo o sistema [de combate à toxicodependência], e o próprio IDT, está pensado para gerir” casos de quem já é toxicodependente, diz. Para Albino Ferreira, o fundamental é “falar das consequências [da droga] aos jovens permanentemente”. “O esforço tem que ser feito na prevenção”. É preciso “assumir que os jovens entram na droga porque ela é boa, mas que as consequências a prazo, não muito longo, são terríveis”.

É o próprio processo educativo que está inquinado, na opinião de Albino Almeida. Os objectivos deste processo são, para o líder das associações de pais, “descobrir identidade, criar autonomia e permitir que os jovens aceitem de forma crítica as regras da sociedade em que se inserem”. “As escolas não formam os jovens para a autonomia”, conclui Albino Almeida.

A CONFAP exige ao governo a coordenação entre “políticas educativas e políticas sociais de apoio à família”, bem como o repensar dos tempos extra-aulas. “As escolas devem ser atractivas, devem proporcionar outro tipo de actividades para os tempos livres. Ocupar os tempos livres é um contra-senso porque ou são livres ou não.” Albino Almeida sugere a palavra “fruir” para substituir “ocupar”.

Pedro Rios
Vânia Cardoso