27 de Maio de 1987. O Futebol Clube do Porto (FCP) vencia, sob a batuta de Artur Jorge, o Bayern de Munique por 2-1. Um golo histórico pela arte do calcanhar de Madjer havia de dar o mote para a reviravolta que Juary selaria. O Porto sagrava-se, pela primeira e ainda única vez, Campeão Europeu. 17 anos depois, qual é o sentimento dos portistas na véspera da final de Gelsenkirchen?

Para derrotar o AS Mónaco no estádio do alemão Schalke 04, os portistas não têm grandes tácticas nem reparos à estratégia que tem vindo a ser delineada por José Mourinho. O optimismo e a confiança imperam nas tascas e cafés típicos da cidade do Porto, dando pouco azo aos exercícios de “treinador de bancada” que costumam anteceder os grandes jogos.

“Vai ser bastante difícil”, prevê Alberto Silva, dono da Casa de Pasto Golfinho. 3-1 é o prognóstico deste adepto. Alberto acredita, no entanto, que o Porto é hoje superior ao que foi em 1987: “Para desempatar a final de Viena, vai ganhar por 3-1”. E aponta as razões: “É uma equipa mais disciplinada, mais organizada, tem melhor plantel. Aliás, os resultados provam exactamente isso”.

José Carlos, da Casa Viúva, considera que o jogo “vai ser equilibrado”, mas diz que o Porto “vai ganhar com certeza”. O facto de o Mónaco ter eliminado equipas como o Real Madrid na caminhada até à final não assusta José Carlos e a razão é simples: “O Porto tem melhor equipa que o Mónaco”.

Na casa de vinhos Melo encontramos um benfiquista – o “maior clube português que neste momento anda a voar muito baixo” – que torce pelo FCP quarta-feira. “Neste caso, sou portista. É bom para o Porto, é bom para a cidade, é bom para o desporto nacional”, diz Manuel Melo.

A prever um jogo de nervos, está também Álvaro Teixeira, do restaurante Pólo Norte, um portista a “150%”, mas que aposta na vitória só no prolongamento. Na churrascaria Central dos Clérigos, o sentimento é o mesmo. “O ano passado ganhamos tudo o que havia para ganhar [com excepção da Supertaça Europeia]. Ainda falta ganhar este jogo”, diz António Pereira.

Chave do sucesso: Pinto da Costa

A saída dada como quase garantida de José Mourinho – o Chelsea é o destino mais falado -, é aceite com resignação e sem motivos para alarme. Vários adeptos apontam o presidente Pinto da Costa como a causa maior para o sucesso do FCP. António Pereira acredita que o Porto vai manter o actual ritmo de vitória, com ou sem Mourinho: “basta ser o mesmo presidente”. O adepto vê no FCP uma “cultura de disciplina que não se vê noutros clubes”.

Alberto Silva é peremptório. “Ganhe ou perca, [Mourinho] nunca mais fica”, diz. “Nunca mais o FCP arranja um treinador que numa época vence a taça UEFA e o campeonato e que no ano seguinte está na Liga dos Campeões e vence o campeonato”, vaticina Alberto Silva que acredita que o espanhol Victor Fernandez, treinador do Bétis de Sevilha, substitua Mourinho no banco.

É com pena que Alberto Silva verá Mourinho sair. “Minha e de todos os portistas. Por muito que nos custe, ele vai embora”, lamenta. Opinião diferente tem Álvaro Teixeira, o único dos entrevistados pelo JPN, a apostar na manutenção de Mourinho. Álvaro afirma, confiante: “Se ganhar a taça fica no Porto. O Porto segura-o”.

Pedro Rios