O projecto «Porto Feliz» teve o seu início em 2002, integrado no Programa Municipal de Combate à Exclusão Social, da Câmara Municipal do Porto. A coordenadora deste programa, Inês Rothes, aponta os objectivos do projecto. “Devolver a cidadania à população excluída, reduzir espaços de exclusão da cidade e avaliar o impacto do programa quer na população quer na cidade”.

«Porto Feliz» surgiu da vontade da autarquia de travar a proliferação de toxicodependentes que obtinham dinheiro para comprar droga pedindo uma moeda nos parques de estacionamentos. O número de arrumadores na cidade diminuiu, mas ainda existem “algumas dezenas de pessoas que não aceitaram o programa de desintoxicação”. Segundo Ernesto Fonseca, director técnico do Porto Feliz, até ao fim de 2003, 191 utentes passaram pelo gabinete de inserção na vida activa e cerca de 500 arrumadores já fizeram parte do programa.

Destes 500, muitos ficaram pelo caminho… Para Inês Rothes, as recaídas “fazem parte do processo de recuperação”. Para combater esta realidade, o projecto conta com duas áreas de intervenção. O «Centro de Investigação dos Problemas Sociais», que tem a seu cargo o estudo do fenómeno da exclusão no terreno e a «Unidade de Intervenção Sócio-Sanitária», que tem a função de motivar para a adesão do projecto, tratar e reinserir populações excluídas.

Para a coordenadora, este projecto reveste-se de “grande importância” para os utentes ao possibilitar “uma alternativa de vida” e para os portuenses em geral permitindo “uma melhoria na qualidade de vida”. Este projecto porque vive, em grande parte, do orçamento disponibilizado pela Câmara Municipal, reveste-se de muitas “dificuldades”, no entender de Inês Rothes. “Este projecto nasceu de uma vontade política e em termos de condições logística é bom, mas há sempre lacunas a este nível”, disse Inês Rothes que não quis entrar em pormenores.

Um dia de cada vez

Droga e delinquência fizeram parte da vida dos utentes do projecto. Nuno de 28 anos e Henrique de 32 anos, têm um percurso de vida muito semelhante.
Ambos são toxicodependentes em recuperação e chegaram ao projecto há pouco tempo. As actividades de lazer que preenchem, normalmente, as tardes dos utentes, são as que suscitam mais entusiasmo.

Nuno teve conhecimento do «Porto Feliz» através da sua assistente de liberdade condicional. O projecto permitiu-lhe uma “limpeza, uma tranquilidade e uma certa paz interior”. De todas as actividades, a que mais gosta é do atelier de fotografia, mas não consegue habituar-se às regras do programa. “Sempre fui habituado a viver pelas minhas regras e viver segundo as regras dos outros é um bocado complicado!”, afirma Nuno.

Para além do cumprimento das regras, Henrique não gosta de “algumas técnicas” porque estas “não se adaptam à nossa maneira de ser o que leva a alguma diferenciação”, diz.
Quanto ao futuro, Henrique pretende “levar a vida até ao fim” e quer “um emprego”. Nuno, por seu lado, afirma que “a longo prazo não vale a pena fazer projectos” até porque já teve “uma má experiência” no passado, pelo que pretende “viver um dia de cada vez”.

Os utentes, da parte da manhã, recebem acompanhamento médico e pernoitam em apartamentos de reinserção.

Vânia Cardoso