Stephen Stoer não tem dúvidas. A universidade do futuro deve ser um "espaço de afirmação da identidade dos indivíduos, aberto à diferença cultural".

Na conferência que proferiu na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o professor elucidou uma plateia maioritariamente jovem acerca do projecto da Euro-Universidade no qual se enquadra o Processo de Bolonha e a criação de um espaço comum de ensino superior.

Para Stephen Stoer, as universidades europeias vivem actualmente uma “crise de identidade”, que se prende, por um lado, com a exigência de excelência como premissa de qualidade e, por outro, com o alargamento do ensino superior a faixas da população cada vez mais amplas e heterogéneas.

“Os dias de hoje são dias de globalização, dias de aproximação de povos e de culturas, o que faz com que a universidade, que durante 200 ou 250 anos esteve reservada apenas a alguns, seja agora procurada por pessoas muito diferentes”, afirmou.
Esta crescente abertura do espaço académico à diversidade cultural e social obriga necessariamente as universidades “a repensar uma série de questões”, entre as quais “a relação com a comunidade e a reorganização dos cursos”.

Para que serve o conhecimento? Quem gere as competências? Que nova universidade se pretende fundar?
Perguntas lançadas ao público, em jeito de reflexão, e que, de acordo com Stephen Stoer, devem estar presentes no espírito reformador de Bolonha e promover “outra maneira de organizar os cursos”.

“Tradicionalmente, os cursos estão organizados disciplinarmente e hierarquizados em termos pedagógicos, ou seja, o papel do aluno é receber o conhecimento através do professor, até completar o diploma. Porém, o novo modelo de universidade desafia esta concepção tradicional”, sublinhou.

Uma maior interacção com as novas tecnologias, mais espaço para iniciativas individuais, no âmbito da pesquisa e da investigação de campo, e currículos flexíveis são algumas das ideias que, na opinião do professor, devem constar nesse novo “modelo disciplinar”. Um modelo pedagógico e curricular que passa também por encontrar um justo “equilíbrio entre a performance e a pedagogia”.

“A excelência inclui uma componente performativa, que aponta para uma relação com a economia e implica critérios de competência e eficiência. Mas passa também por uma consideração pedagógica. Por isso, as competências devem ter um papel mais activo na definição de uma melhor relação da universidade com a comunidade”, defendeu.

Como explicou, Bolonha deve “reequacionar a relação do conhecimento com os indivíduos”, pois “existe o perigo das competências serem interpretadas apenas na perspectiva do mercado de trabalho, que, devido à sua natureza volátil e precária, tende a manipular o conhecimento de acordo com as suas necessidades”. Uma situação que pode conduzir à “alienação do indivíduo”, que assim corre o risco de ser encarado como um instrumento de trabalho especializado, “sujeito às regras da oferta e da procura” que regulam o mundo profissional.

Num momento em que os agentes políticos e económicos da União Europeia parecem efectivamente empenhados em aumentar a competitividade dos quadros superiores europeus face aos Estados Unidos e ao Japão, Stephen Stoer sublinha que a actualização da estrutura curricular do ensino superior não deve responder apenas às exigências do mercado, mas redifinir a importância dos conhecimentos formadores do indivíduo.

É a complexidade destes dois pólos – performance e pedagogia – que, na opinião do professor, deveria constituir um “importante ponto de discussão nas faculdades”.
Até porque a Universidade do futuro deve ser um “lugar privilegiado de diálogo e debate; um espaço de cidadania e individualidade”.