Curiosamente ou não, muitos dos que foram ou são militantes de uma estrutura de juventude estão também ligados ao associativismo académico. Para quem está de fora, cresce a suspeita de que as Associações de Estudantes são manipuladas por alguma cor partidária e de que os líderes académicos estão comprometidos com uma futura carreira política.

As estruturas de juventude dos partidos, embora assumindo que apoiam projectos de liderança de dirigentes académicos que lhes pareçam válidos e que tentam chamar os jovens ao activismo político, rejeitam qualquer interferência ou tentativa de manipulação dos resultados eleitorais e das direcções de estudantes.

A JSD, por exemplo, tem uma Comissão Académica, composta por estudantes do Ensino Superior filiados na “jota” laranja. Esta Comissão tem por função organizar e dirigir o apoio eleitoral a listas candidatas às Associações.
Fernando Bravo, presidente da JSD-Porto e membro da Assembleia Municipal do Porto, assume sem reservas que a sua estrutura “ajuda na elaboração de estatutos e dá apoio e orientação aos projectos de associativismo estudantil em que acredita”. Mas garante que “não há nenhuma Associação de Estudantes partidária”.

«Se alguém tem de partidarizar as AE, que sejamos nós»

O Movimento de Estudantes Socialistas, por sua vez, integra a JS e tem por objectivo alertar para os problemas do ensino e aumentar a participação dos jovens no espaço público das escolas
“Se alguém tem de partidarizar as Associações de Estudantes, então que sejamos nós. Mas não defendemos essa política, achamos que o mais importante não é partidarizar, mas sim politizar as organizações estudantis”, defende João Torres, da JS/Maia.

Pedro Ferreira, militante da JCP, diz que a sua estrutura interage activamente com os estudantes, procurando “conhecer a forma de funcionamento das escolas e mobilizar os estudantes para as causas” que consideram justas. “Estamos presentes, não tanto como membros do partido, mas como pessoas autónomas, nas Associações de Estudantes e concelhos pedagógicos. Também distribuímos gratuitamente o ‘Dínamo’, um jornal afecto às questões da vida estudantil. Mas são pequenas coisas para chamar a atenção das pessoas. Nunca financiámos nenhuma campanha de estudantes, até porque não há muito dinheiro”, refere.

Sendo esta relação entre juventudes partidárias e associações estudantis eventualmente mais promíscua do que seria desejável, o que é certo é que a participação das “jotas” na vida académica acaba por dinamizar as causas estudantis.
Além disso, as associações académicas são, quase tanto como as juventudes partidárias, boas escolas políticas de onde emergem muitos dos rostos do panorama político nacional.
Resta saber até que ponto esta interacção entre política e associativismo académico é saudável, e se as vicissitudes do jogo político podem ser superadas pela vitalidade que este traz às academias.

Andreia C. Faria