Escolas de liderança, espaço de activismo político, instrumento partidário de domínio das Associações de Estudantes ou trampolim para um cargo: as opiniões divergem quanto à verdadeira essência das “jotas”.

Mas porque aderem os jovens às juventudes partidárias? As respostas são muitas, as motivações são íntimas. Pedro Ferreira, da JCP, João Torres, da JS e Fernando Bravo, da JSD, falam do que os move na política.

Pedro Ferreira: “A Revolução tem o seu lugar na sociedade”

Pedro Ferreira tem 23 anos e é assistente social. Vindo de uma família conservadora e de direita, recorda ainda o momento em que descobriu o Comunismo. “Foi no 9º ano, através da professora de História. Ela falou do Comunismo durante algumas aulas. Nas primeiras, apresentou as vicissitudes da ideologia, nas últimas só falou das virtudes”. Despertada a curiosidade, aos 17 anos Pedro toma consciência do que é verdadeiramente o Comunismo: “É uma coisa pensada, científica. Não apenas um mundo melhor no sentido etéreo”, explica. Dai à leitura assídua do “Avante!” e à inscrição na Juventude Comunista Portuguesa, aos 20 anos, foi um passo natural.

Acredita que o Comunismo é uma política de pessoas, e que por isso é essencial no jogo político, principalmente numa altura em que “há um esvaziamento do discurso político, não há ideias, não há mensagem”.
Mas reconhece que o seu partido está a atravessar “uma grave crise de identidade”. A culpa, diz, “é do próprio PCP, que não soube transmitir a sua mensagem, e da comunicação social, que não lhe dá espaço mediático”.

Pedro não quer ser político profissional, por achar que “o carreirismo político desvirtua a democracia”. Diz estar na JCP pela ideologia e por acreditar que “a Revolução tem o seu lugar na sociedade”.
Não acredita que na JCP haja alguém à procura de “tacho”, até porque o PCP não é tradicionalmente um partido de poder e porque “ser comunista acarreta um estigma, é um pouco como uma doença.”

João Torres: “Gostava de ser político profissional”

Aos 18 anos, já tem o discurso, a capacidade de expressão e a torrente de ideias de um político. E a postura. É um miúdo que, ainda a dar os primeiros passos na política, já assume com extraordinário à-vontade os “ossos do ofício”. E assume sem complexos: “gostava de ter um bom currículo e chegar com mérito à política”.

Despertou para a vida partidária aos 8 anos, ao ver António Guterres discursar na televisão. O então candidato a primeiro-ministro tinha “o dom da palavra” e incutiu-lhe o gosto pelo PS, tão inesperado quanto a família não estava filiada em nenhum partido. Aliás, era João que os “chateava para irem a comícios do PS”.

Poucos anos mais tarde, em férias, uma conversa na praia com um militante socialista foi decisiva. “Foi aí que pensei com seriedade em ser político”, recorda. A determinação chegou ao ponto de, decidida a militância, ter andado pela cidade onde mora durante todo o dia para se inscrever na JS: “estava a chover e eu não sabia onde era a sede. Quando finalmente a encontrei, estava fechada. Tive de ir ao Porto, deixar o meu contacto”. O telefone tocou um ano depois, tinha João 15 anos.

Com as “autárquicas” à porta, não tem mãos a medir e, para se dedicar ao trabalho no núcleo da sua zona de residência, gasta três noites por semana e o fim-de-semana inteiro. Ainda que a prioridade seja o curso de engenharia civil e a autonomia financeira, confessa ter “organizado a vida em função da política. Só uma pessoa que goste muito disto tem uma agenda destas”. Fez amigos na política e os amigos “de fora” dizem que “deve ser maluco, mas dão todo o apoio”.

Pragmático, não conhece ninguém que esteja na sua “jota” para arranjar “tacho”, mas sabe que “a política está cheia de interesses”. Continua a ter Guterres como ídolo e sonha ser ministro das Obras Públicas. Mas nenhuma área da vida política lhe escapa: fala de consolidação orçamental com a mesma fluência que de saúde, justiça ou educação. Fica-se com a certeza de que, de futuro, vai ser um nome familiar no meio político nacional.

Fernando Bravo: “se os bons não vêm, ficam só os maus”

O secretário-geral da JSD-Porto está quase a passar para os seniores do partido. Aos 29 anos, este líder portuense tem uma larga experiência política. “Sempre gostei de política e por volta dos 16 anos ingressei na JSD. A minha família simpatiza com o PSD, mas, apesar da influência deles e de amigos, foi por vontade própria que entrei”, explica.

A JSD é a mais forte das estruturas políticas juvenis, o que Fernando Bravo justifica com o “excelente espírito de grupo”.
A dimensão da “jota” laranja, aliás, levou-o a ocupar muito tempo: “cheguei a ter reuniões todas as noites”, confessa. Mas não dá por perdida a dedicação à Juventude Social Democrata do Porto. “O partido e a “jota” podem ter muitos defeitos, mas enquanto acreditar que têm mais qualidades, continuo”, explica.

Mostra-se céptico quanto à proliferação de “tachos” políticos potenciados pelas “jotas”, até porque “quem quer envolver-se a sério na JSD tem de trabalhar muito, e se as pessoas ascendem a cargos elevados por mérito não há mal nenhum nisso”.
Membro da Assembleia Municipal do Porto, é também psicólogo e quer manter a sua profissão como garante de autonomia e independência da política: “Nunca procurei nenhum cargo político”, garante, mas acha que, “se os bons não se empenham nas causas públicas e nos partidos, ficam só os maus”.

Andreia C. Faria