Político, romancista, dramaturgo, poeta e jornalista, Garrett marcou a primeira metade do século XIX e sobreviveu até aos nossos dias como um mito da literatura portuguesa.

Homem das letras e da cultura, tantas vezes incompreendido e esquecido, João Baptista da Silva Leitão, a que acresceram depois os nomes Almeida e Garrett, deu uma nova expressão à língua portuguesa, ressuscitou e renovou o teatro nacional, coligiu a tradição oral popular num livro que é tido por alguns especialistas como a primeira expressão da etnografia portuguesa – o famoso “Romanceiro” – e participou activamente na vida política do país. Foi deputado, diplomata e ministro. Antes lutou ao lado de D. Pedro contra os absolutistas e pagou pelas suas convicções políticas, mais do que uma vez, o preço do exílio. Redigiu leis, animou jornais e revistas, fundou o Conservatório de arte dramática e propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II.

Comprometido com os valores revolucionários do liberalismo e apaixonado pela pátria, Garrett foi sobretudo um homem do seu tempo.
Para Fátima Marinho, professora catedrática de literatura portuguesa na Faculdade de Letras da UP, Garrett inaugurou “uma nova forma de pensar o país e a literatura”.
“O que há de novo em Garrett é a coloquialidade da sua escrita, uma nova forma de contar uma estória e de conversar com o leitor”, sublinha, em entrevista exclusiva ao JPN.

Baptizado como o pai do romantismo português, Almeida Garrett bebe dos grandes nomes românticos da Europa o gosto pelo popular e pela história nacional, o culto do amor e a celebração do sentimento.
“Gostos da época”, como faz questão de sublinhar esta especialista em literatura portuguesa do século XIX.

Em 1854, Almeida Garrett morreu. Tinha então 54 anos. Ficaram para a posteridade dezenas de obras e o génio inconfundível do homem que lutou com a pena e com a espada por um Portugal novo.
Século e meio volvido desde o seu desaparecimento, o que resta de Garrett?

Andreia Fonseca