Não há debates, tertúlias ou conferências que consigam justificar a falta de discussão à volta do Protocolo de Bolonha. Algumas universidades, a título individual, já promoveram conferências sobre o assunto, mas não há uma orientação nacional. E mesmo dentro de cada universidade o debate parece ser insuficiente. Talvez a indecisão politica à volta do dossier seja a principal explicação. Mas nem todos alinham pelo mesmo diapasão. Alguns professores universitários procuraram diversas formas de levar o tema para a praça pública. Escrevem artigos nos jornais, editam weblogs sobre esta temática e tentam fazer, a título individual, aquilo que o Estado não faz de forma clara.

Para Jorge Morais o problema é a falta de informação dentro do próprio meio. Ainda há muitos docentes universitários que não têm bem presente quer o paradigma de Bolonha quer a forma como o processo está a ser conduzido. Um problema que se estende aos alunos. Exemplo disso mesmo é Daniel Jales, estudante universitário de Economia na Universidade Portucalense, que confessa que nem ele nem os seus professores discutem Bolonha. Ele próprio afirma, envergonhado, não ter “a mínima noção do que é Bolonha”. E admite que muitos dos seus professores também não sabem muito sobre o processo.

Um diálogo condicionado

As posições extremam-se. Por um lado, o Conselho de Reitores das Universidades de Portugal (CRUP) já se mostrou bastante renitente em relação ao modelo adoptado pelo governo português. Por outro, há ainda a ferida em aberto entre as ordens profissionais e os defensores do protocolo. Uma questão que, para o professor Jorge Morais, existe apenas porque ainda ninguém percebeu muito bem o quer. Nem os defensores de Bolonha, que não sabem ainda qual será a última palavra do governo sobre o modelo a adoptar, nem as ordens profissionais, que temem em demasia que o plano curricular dos três primeiros anos acabe por produzir profissionais sem preparação para enfrentar o mercado de trabalho.

Bolonha é um dos temas mais importantes da sociedade portuguesa e a discussão quase não existe. Um panorama que muitos querem ver alterado rapidamente. O problema é que esses “muitos” podem acabar por se revelarem ser muito poucos.

Miguel Lourenço Pereira