É professor na Universidade do Minho e está intimamente ligado à comunicação social, primeiro como profissional e agora como docente. Bolonha é um tema que acompanhahá muito tempo, especialmente no seu weblog Atrium. Consciente de que a ideia de Bolonha poderia ser extremamente positiva para a evolução do sistema de ensino em Portugal, Luís Santos é, no entanto, bastante crítico em relação à postura da ministra da Educação, Maria Graça Carvalho.

Em entrevista ao JornalismoPortoNet, declara que o aluno universitário português perde financeira e qualitativamente” com a aplicação do Protocolo de Bolonha em Portugal nos moldes que estão na mesa.

O Ensino Superior português vai benificiar com a aplicação do Protocolo de Bolonha?

O protocolo de Bolonha tem por objectivo expresso a uniformização da formação de nível superior no espaço mais alargado possível dentro da União Europeia. Bolonha é uma promessa de maior intercâmbio entre iguais – estruturas e pessoas. Bolonha pode permitir aos indivíduos formações mais ecléticas e às instituições maior e mais proveitosa cooperação.
Em princípio, isso só pode ser bom, para os Estados e para os indivíduos. O que me parece errado é usar as indicações de Bolonha para justificar uma política de desinvestimento no Ensino Superior. Se o próximo governo decidir avançar com os planos traçados pela demissionária ministra, a expressão “aplicação do protocolo de Bolonha” vai apenas significar custos acrescidos para as famílias e nivelamento por baixo da qualidade do Ensino Superior. E isso não pode ser bom.

Quais as medidas que destaca como elementos centrais desta nova politica educativa em Portugal?

O que preconiza o plano traçado por Maria da Graça Carvalho – com a ajuda de comissões nomeadas que não consultaram nem as universidades nem as estruturas profissionais – é o desenvolvimento de uma formação em dois ciclos; o primeiro deles, com três anos, suportado pelo Estado e o segundo, com dois anos, suportado pelas famílias. As excepções a esta regra são algumas, embora não se perceba muito bem que critérios foram usados para a distinção entre o que inevitavelmente passará a ser considerado “curso de primeira” e “curso de segunda”.

“Já houve várias organizações profissionais de professores que se mostraram desagradadas”

Como é que os professores universitários estão a ver a questão de
Bolonha?

Não me sinto habilitado a falar por mais ninguém, mas, tomando como ponto de partida a realidade em que trabalho, diria que a maior parte das pessoas aceita o princípio enunciado por Bolonha (formação em dois ciclos com o primeiro a ter entre 3 e 4 anos), embora não aceite, de modo algum, o aproveitamento político enviesado que dele se fez.

Existe algum núcleo de docentes que se manifeste contra a aplicação do Protocolo?

O Conselho de Reitores (CRUP) emitiu já um parecer muito crítico sobre o assunto e várias organizações profissionais e sindicatos manifestaram também o seu desagrado.

A redução para três anos, como se prevê, das licenciaturas vai certamente levar a uma reorganização das cadeiras e dos conteúdos programáticos. Os docentes universitários estão preparados para esta mudança?

Os docentes universitários estão, na sua esmagadora maioria, sempre preparados para mudanças que visem uma melhoria da qualidade do Ensino Superior. Apesar de não lhes ser reconhecido o mérito por isso (melhor dizendo, apesar das manobras para fragilizar o seu estatuto precisamente nos meses que antecederam a apresentação da proposta do ministério), são, na generalidade, pessoas que lidam bem com a mudança, uma vez que ela está inscrita na matriz da busca do conhecimento.

Miguel Lourenço Pereira