Na teoria, raro é o professor universitário português que não concorda com Bolonha. O processo seria a base perfeita para a reestruturação do ensino português – e europeu –, permitindo às universidades competir com as “rivais” norte-americanas. No entanto, isso é a teoria.

Para o professor Jorge Morais, da Universidade Aberta, Portugal não vai beneficiar muito na prática com a aplicação de Bolonha. O problema, ideia partilhada por outros professores universitários, está “politização” do dossier, que tem prejudicado a ideia inicial, que passava pela reestruturação do Ensino Superior.

Hoje, a ideia que passa é que Bolonha se tornou uma inevitabilidade e que não há outra forma de conduzir o processo. Uma ideia que não podia estar mais longe da verdade, já que Portugal ainda não decidiu qual o modelo final a aplicar nem a forma como este “renovado” Ensino Superior vai ser financiado. A aposta num primeiro ciclo de três anos pago pelo Estado e num posterior ciclo de dois anos, a ser pago pelos estudantes é, na opinião de muitos professores universitários, um erro. Luís Santos, professor na Universidade do Minho, afirma mesmo que isso pode prejudicar a qualidade do Ensino, uma contradição clara com a ideia original do processo.

O factor económico

Apesar de ter sido apresentado ao meio universitário como algo meramente do foro académico, o Processo de Bolonha está longe de se restringir a esses parâmetros. Hoje, mais do que nunca, Bolonha é visto como um processo politico, e, talvez mais ainda, um processo económico. Algo que não passa despercebido aos professores do Ensino Superior que vêm nisso um erro tremendo, um verdadeiro tiro no pé por parte dos Estados europeus. Sobre este complicado tema, Jorge Morais não tem problema em apontar o dedo aos governos europeus, acusando-os de “descaracterizar o principio inerente a Bolonha”.

Uma ideia que se estende a outros docentes, que estão preocupados com esta mudança de rota. Afinal, se Bolonha se tornar numa questão meramente económica, o problema do financiamento pode levar a uma redução dos encargos do Estado. Isso pode significar que os mais jovens quadros de professores universitários terão os seus lugares em risco, especialmente se trabalharem em universidades públicas. Algo que explica também a posição expectante das universidades privadas à volta deste tema, já que os orçamentos privados destas instituições e o facto de muitos dos professores não trabalharem em regime de exclusividade lhes dar uma maior margem de manobra.

A ideia que fica é que o novo governo pode cair na tentação de poupar muito dinheiro com o ensino. Uma medida que não só desagrada, como preocupa bastante os docentes universitários portugueses.

Miguel Lourenço Pereira